quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O GATO DAS SETE VIDAS FAZ UM ANO


Para o escravizado mordomo de um cão com blog era irresistível tornar-me assíduo do gato. O Petra faz que não gosta, como lhe compete, por isso visito-o às escondidas. A melhor hora é a terceira da madrugada, com o copo de plástico do último bombay da esplanada do miradouro a verter para o teclado. É como entrar numa casa de fado e gostar da música.

O gato é um escritor de canções. Letras longas, feridas fundas, densidade, lucidez e estilo. Uma incarnação improvável de Bruce Springsteen, Tom Waits, Albert Ayler, Chico Buarque e David Byrne. Ele que me desculpe, mas não consegui meter aqui a Mayra Andrade. Estou a sério e julgo ter encontrado a precisão jornalística.

Vi o gato uma vez na vida, na noite de Lisboa. Não me recordo do assunto, mas sei que nos entendemos. Não tem tanto a ver com estar de acordo como com estar-se acordado numa corda de trapézio a que se chama vida. Ele tem sete, por isso salta melhor e mais vezes. Fortuna dele, pequeno prazer de quem o visita, azar de quem o atiça.

2 comentários:

Rui Vasco Neto disse...

carlos,
estou a ver um filme sobre Modigliani, no Mov, neste momento, e ao mesmo tempo leio este retrato que aqui pintas em escassas linhas. Brilhante no pormenor, diga-se de passagem. É interessante observar o toque inconfundível do artista na perfeita expressão que este consegue, plástica ou outra, do seu sentir mais profundo. Às vezes sem dar por isso, outras com intenção. Mas o que conta é o resultado final, como nos campeonatos de futebol.
Uma surpreendente abada, neste caso.
Abraço-te.
rvn

Anónimo disse...

Genial. Bem como o gato.
Mas que nao sirva de desculpa para nao lermos mais do teu sofisticado genio tambem.
P.