quinta-feira, 30 de abril de 2009

JOKERMAN

Não posso esquecer-me desta música. A letra de Bob Dylan e a sociedade Caetano & Morelenbaum.

GRIPE

Há uns tempos que não trato como jornalista nada sobre saúde. Por isso estou mais inseguro mas também mais tentado a partilhar aqui três factos, quero dizer, três pulgas que trago atrás da orelha.

Os vírus sazonais da gripe, que não têm nomes de pássaros ou de porcos, matam que se fartam em Portugal: centenas ou mesmo milhares de portugueses por ano.

A vacinação é a grande arma contra essas epidemias mas em Portugal favorece mais o negócio do que uma estratégia racional de saúde pública. O Estado gastava menos se comprasse as vacinas por concurso público em lugar de comparticipar a sua venda nas farmácias. Com esse procedimento - e isto é que é importante - mais facilmente as poderia distribuir pelas camadas de população verdadeiramente vulneráveis.

Nas anteriores gripes mediáticas, em Portugal, não aconteceu nada para além de se terem vendido toneladas de medicamentos. Não aposto porque não estudei o assunto mas desejo e desconfio: desta vez vai acontecer o mesmo.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

CONCERTO


David Byrne é escocês e faz vídeos artísticos. O bailarino não o vai matar e agarrá-lo é impossível.


Lily Baldwin deve ser a protagonista de "The Great Curve", uma canção de 1980 dos Talking Heads. Mesmo fotografado aquele corpo é todo movimento. She is moving to describe the world.



Creatures of love.




David Byrne passou ontem por Lisboa. Fotografias de Ken Eisner, retiradas daqui.

JORNALISMO 2

Para aí 90 por cento da informação televisiva é pré-fabricada. As organizações, políticas, empresariais ou outras, especializaram-se em montar teatrinhos para fazerem passar propaganda, legítima ou não, como notícia na televisão.

Por isso vemos, por exemplo, ministros rodeados de criancinhas a anunciar cheques para o dentista. Os protagonistas, bem treinados, aproveitam o cenário e descarregam o "soundbyte" que lhes dá jeito. As criancinhas, os doentes nos hospitais e por aí fora servem de actores reais, em regra involuntários. Actores secundários mas indispensáveis à eficácia do filme.

Claro que há outra maneira de aproveitar esses simpáticos momentos de convívio entre quem quer passar mensagens e os profissionais que existem para informar as pessoas.

Um bom princípio é fazer perguntas, outro é fazer contas. Como nesta reportagem de Augusto Madureira, na SIC.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

JORNALISMO

Se contar com o jornal da Biblioteca Infantil e Juvenil de Viana do Castelo, o jornal do liceu que dava uma bronca a cada número, mais os relatos de hóquei e os directos de bobine ao ombro na Rádio Alto Minho, já sou jornalista há uns 30 anos.

Foi "O Independente", à saída da faculdade, que meu deu uma carteira profissional. Entrei no jornal que para mim era o jornal porque comprei um bilhete de comboio. No lugar ao lado do Intercidades, nessa sexta-feira, estou a ver o Pedro Loureiro, aspecto desarrumado de gajo porreiro. Abri a edição dessa semana e ele fez "play" num CD, ainda por editar, dos Bandemónio.

Foi ele que meteu conversa. Perguntou-me se podia ver o jornal. Respondi sim, toma lá, os jornais foram feitos para serem lidos, ainda mais do que comprados, com aquela arrogância de quem anda a estudar jornalismo. E aproveitei para lhe sacar os "headphones" e o Pedro Abrunhosa, que um gajo a estudar a 370 km de casa aprende a ser descarado. O Pedro, um dia eu conto, meteu-me lá, meteu-me nisto. Foi ele, fotógrafo de "O Independente" e passageiro da mesma viagem, o culpado.

No jornal aprendi o que é uma notícia. No segundo andar da Redacção havia uma folha A4 colada ao vidro do aquário. Já não me lembro dos termos exactos, mas era mais ou menos: "Notícia é o que um jornalista tem boas razões para contar e alguém tem boas razões para não querer que se saiba". A frase, por mais elaborada que fosse nos termos originais, não despertava sobressaltos. Eu e os outros jornalistas trabalhávamos rodeados de jornalistas e leitores que pensavam assim. Renegar as notícias seria absurdo.

Ainda hoje me lembro dessa frase sem sobressaltos mas estou cada vez mais só. Ao longo destes anos o ambiente mudou: a regra tornou-se excepção. A maioria das notícias, hoje em dia, são o que alguém quer que se saiba. Até se fazem manchetes de grandes jornais que não são novidade, não são notícia, pela simples razão de que alguém quer muito que se saiba.

Esse alguém não é o povo (já quase soa estranha, este palavra) consumidor de jornais. O jornalismo institucionalizou-se. Os jornalistas arranjam empregos com os políticos, comem à mesa dos banqueiros, frequentam as mesmas lojas, realizam-se com ascensões socias estranhas à profissão. Muitos jornalistas começaram a fazer parte daquela entidade a que o povo (não tenhamos medo dela) chama "eles".

Ao mesmo tempo, os factos foram substituídos por uma sofisticada retórica de "objectividade" e "equilíbrio" - totalitária - e por um processo de intenções ao menor desvio. As notícias já não são julgadas por serem verdadeiras ou falsas, mas por serem "a favor" ou "contra". A realidade foi disciplinada como a classe: não investigarás, dirás o que eu te digo; quando, por azar, não tiver sido eu a dizer-te, escreverás "alegadamente".

Não contem comigo para essa merda. Eu faço notícias e olho as pessoas do meu bairro nos olhos. Prefiro trocar de profissão a fazer outra coisa. Podem até obrigar-me a mudar de vida mas jamais a renegar a que tenho há 30 anos.

26

"Ojala", Silvio Rodriguez.

Como quem ao mudar de assunto muda mesmo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

TRAVESTIDO

As metáforas, em Português, são uma coisa poderosa.

Não é avisado recorrer a elas com aquela inconsciência de quem manda um fax para a cadeira de inglês técnico.

E se eu disser que um chico, perdão, um zé "travestido" de primeiro-ministro esteve ontem à noite na televisão?

Não poderá ser esta uma metáfora melhor do que a dele?

sexta-feira, 17 de abril de 2009

QUEM FALOU EM PRESCRIÇÃO?


HÁ QUATRO CRIMES EM INVESTIGAÇÃO NO PROCESSO FREEPORT: CORRUPÇÃO PARA ACTO ILÍCITO, TRÁFICO DE INFLUÊNCIAS, PARTICIPAÇÃO ECONÓMICA EM NEGÓCIO E BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS.
É O QUE CONSTA DE UM DESPACHO DO JUIZ DE INSTRUÇÃO DO PROCESSO, CARLOS ALEXANDRE, QUE NO FUTURO VAI DECIDIR POR QUE CRIMES OS ARGUIDOS PODERÃO VIR A SER JULGADOS.
SENDO ASSIM, O INQUÉRITO SÓ PODERÁ SER DECLARADO PRESCRITO EM 2012, NA MELHOR INTERPRETAÇÃO POSSÍVEL PARA OS INTERESSES DOS SUSPEITOS.


NOTÍCIA TVI


O Juiz Carlos Alexandre, em despacho datado de 6 de Março, declara que há quatro crimes em investigação no processo Freeport: corrupção passiva e activa para acto ilício, tráfico de influências, participação económica em negócio e branqueamento de capitais.

Os primeiros três crimes, a serem provados em tribunal, podem dar penas de prisão até 5 anos, o que quer dizer que o processo só poderá prescrever em 2012, dez anos depois dos factos sob investigação. No caso de ser provado o branqueamento de capitais, a pena de prisão pode ir até 12 anos, o que quer dizer que o processo só poderá ser declarado extinto, por prescrição, em 2017, quinze anos depois do crime.

Com este despacho, o juiz do processo qualifica da forma mais grave possível a corrupção e o tráfico de influências que possam ter levado ao licenciamento do maior "outlet" da Europa em plena zona protegida do estuário do Tejo. Esses crimes, a serem comprovados, estiveram ainda na origem de actos ilícitos da administração pública. Os ministros, autarcas ou funcionários públicos que se tenham deixado corromper violaram também os poderes que a lei lhes confere ao aprovar o empreendimento.

Mesmo que a corrupção fosse para acto lícito, hipótese afastada por Carlos Alexandre, sobrava ainda o crime de participação económica em negócio, previsto na lei para punir o ministro, autarca ou funcionário público que, "com intenção de obter vantagam económica ilícita para si ou para terceiro" - como, por exemplo, o financiamento de um partido político - lesar os interesses do Estado que lhe cumpre defender. Só este crime dá cinco anos de prisão e por isso só prescreve em 2012.

A teoria da prescrição do Freeport cai assim por terra. Recorde-se que os procuradores Vítor Magalhães e Paes Faria, que investigam o processo, denunciaram uma pressão nesse sentido exercida por Lopes da Mota, ex-colega de Governo de José Sócrates e actual presidente do Eurojust, organismo encarregado, no caso Freeport, de fazer a cooperação com a polícia inglesa. Lopes da Mota já negou ter exercido essa pressão, mas, em entrevista ao Diário de Notícias, confessou ter dito aos magistrados que "o Primeiro Ministro quer o assunto resolvido rapidamente".

Sucede que essa pressa não tem fundamento jurídico. Os magistrados do Ministério Público Vítor Magalhães e Paes Faria têm, no mínimo, mais três anos para constituir José Sócrates arguido, caso o considerem, como considerou a polícia inglesa, "suspeito da prática de actos corruptos".
A prescrição é que não será nunca o caminho para livrar o primeiro-ministro, rapidamente, deste processo.