terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

O RELATÓRIO PROIBIDO DOS MEDICAMENTOS

As conclusões de um estudo científico realizado em parceria pelo Ministério da Saúde e pela Associação Nacional das Farmácias, financiado por ambas as entidades, revelam um desperdício brutal e permanente com os medicamentos receitados pelos médicos.
Por cada embalagem comparticipada saída das farmácias, o desperdício médio é de 4 euros e 44 cêntimos, ou seja, é esse o valor das cápsulas, comprimidos e saquetas que vão ficar esquecidos numa gaveta lá de casa, até irem para o lixo ou serem devolvidos às farmácias para serem incinerados. Em média, cada vez que um doente vai à farmácia aviar uma ou mais receitas, desperdiça 5 euros e 83 cêntimos em medicamentos que não vai utilizar.
Os investigadores do Instituto de Qualidade em Saúde e do Centro de Estudos da ANF demonstram que o desperdício resulta, em partes praticamente iguais, de dois problemas: as embalagens dos medicamentos ultrapassam as necessidades dos doentes e os doentes não tomam até ao fim o que é receitado pelos médicos.
Os investigadores acompanharam por telefone o destino das receitas aviadas por mais de 1600 doentes. Este grupo de doentes é verdadeiramente representativo do universo nacional. Foram incluídas farmácias de todos os distritos do país, não tendo sido seguidos mais de 6 doentes por farmácia. Os investigadores invocam modelos estatísticos validados pela comunidade científica para demonstrarem que os resultados obtidos têm uma margem de confiança de 95 por cento. É impossível fazer um estudo desta natureza com resultados mais seguros.
O universo estudado é o dos medicamentos comparticipados. Ou seja, dos fármacos cujo custo é suportado integralmente pelo Estado, no escalão máximo de comparticipação, ou dividido entre o Estado e os doentes, nos outros escalões. Feitas as contas os investigadores concluem que o Estado, com o dinheiro dos contribuintes, suporta 60 por cento do desperdício com medicamentos. Os outros 40 por cento são pagos pelos doentes, directamente na farmácia.
A conta que vamos fazer agora é da nossa responsabilidade e não tem o rigor científico do estudo, mas do ponto de vista jornalístico impõe-se, para todos podermos ter a noção da ordem de grandeza deste problema.
Considerando o desperdício médio apurado de 4, 4 euros por embalagem, e que os números oficiais dão conta da dispensa de quase 125 milhões de embalagens por ano de medicamentos comparticipados (124.408.494, Estatísticas do Medicamento 2004, Infarmed) , o desperdício global anda perto dos 550 milhões de euros (547.397.374). Destes, 328 milhões, ou seja, 60 por cento, são suportados pelos contribuintes, através das comparticipações, os restantes 219 são gastos pelos utentes no acto de compra.
O Ministro da Saúde proibiu internamente a divulgação deste estudo. Contactado pela TVI, o Gebinete de Correia de Campos respondeu que"ainda não se encontra para divulgação".
http://www.tvi.iol.pt/informacao/noticia.php?id=769330