terça-feira, 24 de junho de 2008

QUEM PRECISA DE UM NOVO AEROPORTO?


O Aeroporto da Portela, cujo esgotamento vem sendo anunciado desde Marcelo Caetano, que lançou os primeiros estudos para um novo aeroporto internacional de Lisboa, é capaz de ser demasiado valioso.

Localizado no interior da cidade, é o aeroporto com melhores condições meteorológicas da Europa para a navegação aérea e contribuiu seguramente para que Lisboa tivesse batido no ano passado todos os máximos de turistas estrageiros e de ocupação dos hotéis, sem ser preciso investir em estádios, como em 2004, ou em pavilhões e grandes empreendimentos habitacionais, como em 1998.

Claro que a urbanização daqueles terrenos, com vista privilegiada para o estuário do Tejo, também não teria preço. Pois, o problema do aeroporto é ser demasiado valioso.

Quem quiser pensar melhor sobre este assunto pode começar por visitar a Portela, primeiro junto à saída de emergência vizinha de Figo Maduro, depois do lado ocidental, a caminho da Alta de Lisboa. Estamos no Verão, altura de maior densidade de tráfego aéreo, a melhor para ficarmos zonzos com tanto movimento e tanto barulho anunciado.

Quem regressar espantado dessas visitas poderá ler "O Erro da Ota e o futuro de Portugal" (Ed. Tribuna da História, 2007), bem como este estudo de Rui Rodrigues. A reportagem da TVI sobre o assunto está na barra direita deste blog e chama-se "Aeroporto: a mentira".

Boa viagem!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

NOJO


Acompanhei o caso como jornalista. Ana Sofia, 21 anos, alentejana, bonita, filha única, andava a estudar em Lisboa, como eu andei durante quatro anos. Numa tarde maldita interromperam-lhe o curso. Foi espancada, violentada, asfixiada e brutalmente assassinada por André Casaca, um ex-namorado movido a drogas pesadas, que no fim ainda tentou incendiar-lhe o corpo e meteu-a mesmo num caixote do lixo de Telheiras.

A besta, que eu vi, apareceu em tribunal sem pinga de arrependimento, altivo, arrogante, a defender uma tese de acidente. Tinha decorado o discurso de uma vítima. Mas as entranhas impediram-no de esconder, a cada palavra, o vento tempestuoso e frio dos carrascos. Os advogados dele ainda tentaram fazê-lo passar por maluquinho, que se escreve inimputável na retórica jurídica, mas não colou. Apanhou 22 anos de cadeia, onde seguramente continuará a andar movido a drogas (porque é proibido fumar em espaços fechados, mas para o Estado há espaços mais fechados do que outros).

O Casaca é todo ele consumo, não faz despesas de investimento. Não tem bens em nome dele e por isso não vai pagar um tostão pelos danos (alguém imagina?) causados aos pais da vítima. Daqui a uns dez anos, é quase certo, há-de sair a tempo de espalhar outra vez os seus violentos e frios direitos de cidadania. Ou alguém acredita no poder regenerador das cadeias portuguesas para tipos assim?

Mas apesar da falência técnica do carrasco, as contas não ficaram saldadas. O tribunal mandou uma última factura aos pais da Ana Sofia. Tomem lá 15 mil euros de custas judiciais porque estamos no Século XXI e temos Justiça. É o preço a pagar por quem não resolve a coisa à maneira antiga, sangue por sangue, morto por morto.

Esta história imoral vem hoje escarrapachada na página 21 do "24 horas" para nossa vergonha, vergonha, vergonha. Amanhã esta edição do jornal já vai estar esquecida. E na minha pacata cidade, bem refugidas dos camionistas, as altas figuras do Estado (qual Estado, alguém é capaz de me explicar?) vão fazer discursos de esperança e sorrir para as fotografias. Não posso lá estar mas vou pedir aos meus pais para aderirem ao protesto que anda a dar trabalho a uns policiazinhos vianenses, com ordens para se armarem em Pides. Vou dizer-lhes que conheci os pais da Ana Sofia em pleno julgamento. Vestirei eu também a minha camisa preta, que já usei para falar dos cegos abandonados pelos hospitais públicos.


Estou profundamente enojado e esse direito ninguém mo tira.

sábado, 7 de junho de 2008

NÃO ME GODAS, CORAÇÃO!



Hoje há feijoada cá em casa. Os amigos trazem paletes de minies e já estão a pedir para chegar mais cedo. O Petra cão acordou excitado. Desobececeu-me ainda mais do que o costume na rua. Percebi que já está em estágio.

Este extraordinário país adora futebol. O Torcato vai estar por todo o lado, mas terá de ser o Petra a escolher com quem fazer sociedade para os feijões. Quanto à frase dele, eu mesmo vou dizê-la porque não me sai da cabeça:

"Vamos lá ver se temos uma equipa operária".

Não me Godas, coração, já o oiço a responder. Aos gritos, porque ao contrário do que vinha escrito nos epitáfios, aqui nunca se exagerou nada, mas também não ficou nada por dizer.