domingo, 29 de março de 2009

Para quê perder tempo com o bastonário?


António Ribeiro Ferreira (ARF) – A maçonaria não admite corruptos e sempre disse que esse era um dos seus grandes combates.

António Reis - De maneira nenhuma. Isso vai absolutamente contra os nossos princípios. Os maçons são homens honestos. É uma das expressões que figuram em todos os textos da maçonaria. Além de livres e de bons costumes. Isso é incompatível. E mais. Uma das preocupações das ordens maçónicas em todo o mundo é essa. Estou a lembrar-me do Brasil em que está em curso uma grande campanha promovida por organizações maçónicas contra a corrupção. E em Portugal já me pronunciei sobre essa matéria.
E manifestei-me favorável ao pacote João Cravinho contra a corrupção.

ARF – E que a maioria dos deputados do PS recusou.

-
Infelizmente. O que comprova que a maçonaria não controla o grupo parlamentar do PS.

LC – Como é que vê a posição do PS nesta questão da corrupção?

- Pessoalmente acho que houve um excesso de prudência do grupo parlamentar nesta matéria. Apesar de tudo foi aprovado outro pacote, com medidas positivas, outras excessivamente tímidas, mas espero que as positivas dêem resultado.

LC – Mas é um pacote muito tímido em relação às propostas de Cravinho.

- Sem dúvida. E daí que eu tenha tomado uma posição favorável ao pacote do engenheiro Cravinho.

ARF – Não fica chocado quando ouve altos responsáveis do Ministério Público dizerem que há políticos pobres que ficam milionários pouco tempo depois?

- Claro que me choca. E é por isso que eu entendo que deve ser feito o máximo possível para pôr cobro a situações desse tipo.
Deve haver poderes de investigação muito vastos.

ARF – Mas os responsáveis dizem que não podem investigar por causa das leis penais.

-
Devem ser feitas as alterações necessárias para evitar isso. É claro que foram pessoas que enriqueceram por via da corrupção.

ARF – À vista desarmada. À vista de toda a gente.

LC – A sensação que fica é que os políticos têm medo de alterar as leis para se protegerem eles próprios.

- Eu discordo disso. Acho que quem não deve não teme.

LC – Mas fica essa suspeita.

- Não creio que não haja vontade da parte do poder político de combater a corrupção. Todos proclamam essa necessidade. O que me parece é que há ainda alguma timidez no combate à corrupção.

ARF – Mas têm medo?

- Há também alguma inibição que tem a ver com a defesa dos direitos individuais, com posições demasiado dogmáticas, que teme que a esfera da vida privada seja excessivamente invadida pelo Estado.

ARF – O poder político recusa aceitar o
crime do enriquecimento ilícito.

- Eu não estou de acordo com isso. De maneira nenhuma. Quem não deve não teme. Acho que há um limite para essa defesa dos direitos individuais. Como republicano que sou entendo que os direitos da comunidade se sobrepõem em última análise a direitos individuais. E importa esclarecer uma questão ideológica sobre o Estado.

ARF – Qual é?

- Sobre o Estado. O que é o Estado? O Estado é a comunidade dos cidadãos politicamente organizados. O Estado não é o inimigo do cidadão. O Estado não é aquele adversário de quem temos medo. O Estado somos nós. Esta é a concepção republicana do Estado.

terça-feira, 17 de março de 2009

DEMOCRACIA E MAIORIAS


Esta edificante história democrática conta-se em duas penadas.

Há seis meses, oito enfermeiros supervisores da linha Saúde 24 denunciaram à ministra da Saúde uma série de factos. Apesar de serem funcionários subordinados de uma empresa da toda poderosa Caixa Geral de Depósitos, que como se sabe usa pessoas e dinheiro sem escrúpulos, todos assinaram o que escreveram.

Num país habituado a cartas anónimas, o mínimo que se esperaria de uma ministra saída do grupo de Manuel Alegre é que, por lacónima que fosse, acusasse a recepção.

E o mínimo a que era obrigada, porque ocupa um lugar de Estado, é que verificasse se os factos eram verdadeiros ou falsos.

Dupla negativa.

Sucede que todos os factos denunciados que foram objecto de atenção noticiosa se revelaram verdadeiros, o que implica quebras contratuais da excusiva responsabilidade da empresa gestora, que reiteradamente mentiu à Direcção-Geral da Saúde, a entidade contratante.

Não foi até hoje possível desmentir um único facto.

O
discurso oficial de que a linha "funciona bem" é pura propaganda, como se percebeu quando milhares de portugueses ficaram por atender durante o surto de gripe.

A empresa, governada por um daqueles gestores manhosos à antiga, chamado Ramiro Martins, tratou de usar todo o poder discricionário que o dinheiro do Estado e a lentidão dos tribunais lhe permitem para perseguir pessoas que assinam o que escrevem num país de cartas anónimas.

Há uns tipos assim, que mandam porque mandam, mesmo que não tenham competência para nada, como o próprio Director-Geral da Saúde já disse aos senhores deputados e a quem mais o quis ouvir.

Claro que os deputados não são parvos e já perceberam quem está a mentir. Mas o PS chumbou hoje a audição dos enfermeiros supervisores porque há verdades que incomodam.

Como tem a maioria, decide sozinho quem fala na casa da Democracia. É por isso que é preciso mais uma, não é?

OS FRACOS


Sobre os indignos descendentes do macaco que nasceram para dar ou obedecer a ordens miseráveis vale a pena ler esta entrevista que o João deixou.

Leitura especialmente recomendada ao ministro responsável pelo "maior ataque à liberdade de imprensa desde o 25 de Abril".

quinta-feira, 12 de março de 2009

Direito de Resposta


Às seis da manha, pela hora a que se vendem os primeiros jornais, disseste, meu querido amigo, a tua notícia:

"Eu morri".

Como sempre, claro, mais sólido do que a própria língua e todos os códigos.

Sabes, João, quando te conheci, eu em Lisboa tu em Coimbra, eu todo corrida e tu universidade, conheci o meu código, a minha ética e a minha deontologia. Na boca dos outros desconfiei sempre dessas palavras, na tua elas ganhavam uma existência tranquila, como um vento suave e limpo.

E tantas vezes te perguntei coisas, João.

Umas à volta dos finos mais finos do Mundo, na tua Praça da República, quando eu também era de Coimbra porque estava contigo. Outras ao telefone, aflito, porque me convidaram para a televisão e eu tinha medo, João. Quando o vento virava turbilhão só havia dois jornalistas para mim, que eu queria a responder por mim próprio.

Tu e o Torcato.

Sacana, viste aos gritos o golo da Académica, deixaste os gajos tranquilos na primeira divisão, ergueste-te da cama e enquanto te davam uma volta ao estádio foste ter com ele.

Vejo-vos outra vez, na mesa dez a pedir mais um, todos cúmplices, a rir maliciosos de como me vou safar sozinho.

Venho aqui retribuir-te essa maldade, meu amigo, que foste o melhor coração que encontrei nesta vida. E pela primeira vez vou desmentir-te.

Ao contrário do que ele próprio disse, senhor director,

o João não morreu.

sábado, 7 de março de 2009

A ESCOLHA DEMOCRÁTICA



O Jornal Nacional de 6ª foi o programa de informação mais visto da semana.

“Em democracia quem governa é quem o povo escolhe, e não um qualquer director de jornal ou uma qualquer estação de televisão”, filosofou barato José Sócrates no congresso dele próprio.

E com razão. Mas faltou dizer o resto.

Em Democracia não é ele quem escolhe as notícias: são os jornalistas. E é o povo que decide o que vale a pena ver.

Isto para não falarmos, agora, de quem manda e quem devia mandar nas investigações criminais.

terça-feira, 3 de março de 2009

O SEGREDO DA INVESTIGAÇÃO



Não há como falar do que sabemos. Ainda agora vi o Pôncio Monteiro, no TVI 24, a queixar-se de arbitragens e achei uma delícia.

À procura do Pôncio passei por aqui e fui novamente deleitado.

A Procuradoria-Geral da República telefonou para a Lusa a tranquilizar os portugueses contra os tais jornais que "abusam" da liberdade. Afinal, «não houve qualquer violação do sistema informático». Quer-se dizer, ninguém sacou umas coisas do computador de um procurador que investiga o Freeport. Sim, é disso que fala este "comunicado" da PGR, para mim e para quem leu o Sol este sábado (admito que para a Lusa não, porque não pode abusar, nem o Viana brinca em serviço).

Ainda pensei que a PGR vinha, mais uma vez, dar argumentos às indefesas vítimas da campanha negra, como naquelas entrevistas e comunicados em que explicou que não há suspeitos, pa-ta-ti, pa-ta-ta, estão a ver, «nada».

Erro meu, que cheguei ao segundo parágrafo.

Desta vez, sempre aconteceu qualquer coisa: «Apenas (sic, segundo a Lusa) foram detectadas tentativas de intromissão e anomalias no funcionamento da rede, que estão ultrapassadas».

Ora, que coisa! Sempre houve crime, pelo menos na forma tentada. Considerando a sofisticação própria da pirataria informática, era suposto que não tivesse deixado rasto, ou a ter deixado que não permitisse conclusões imediatas quanto ao grau de sucesso da operação.

Novo erro meu, a tentativa foi fracassada. Presumo eu, que não tenho emenda, que a PGR detectou a origem do ataque e talvez tenha até obtido a confissão de incompetência do próprio atacador.

Nada disso, continuo a bater ao lado: «continuarão a ser feitas diligências no sentido de detectar a origem das fracassadas tentativas de intromissão, com recurso aos meios técnicos adequados, correndo, com esse fim, um inquérito criminal no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa».

Fica o atacador avisado. A PGR anda atrás dele. Como ele não roubou nada deve ser para lhe dizer: "Nha, nhem, nhem, nha, nha, nha, falhaste!".

Está bem, é divertido. Não me gozem é com aquela frase estafada, de que o segredo de justiça também serve para proteger a "investigação".

segunda-feira, 2 de março de 2009

O DEPUTADO PIMBA (1)


José Lello garganteou para a agência Lusa, esse baluarte da independência jornalística, que a TVI é "a estação televisiva que mais abusa (sic) da liberdade de informação".

O presidente do Conselho Fiscal (sic) do Boavista considera mesmo estranho que a Entidade Reguladora para Comunicação, que deu tanto trabalho a inventar ao seu amado líder, não tenha ainda posto patas no assunto.

O Lello é outro daqueles sujeitos transparentes como o suor que lhe escorre da testa ao fim de 26 anos (a sério, 26) de trabalho parlamentar. Ainda há dias justificou como "normal" (sic) o convite ao Partido Comunista Chinês para estar presente nesse momento alto do debate democrático que foi o congresso do PS.

Como pode ele compreender quem abuse da Liberdade? Já estou a vê-lo a exigir ao agente regulador Azeredo que mande a minha redacção toda para a China.

Com o indevido respeito: por que não vai ele?