quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O 31

Não queira, a sério que não queria, mas estou como o João Gonçalves: este ano foi uma boa merda.

A propaganda aboliu tudo: o mérito, a justiça, o sonho, as liberdades e a Liberdade.

Por mim, não acredito na passagem de ano. Acho que este ano vai ficar aí como cadáver por enterrar. O funeral vai resumir-se ao velório.

O speaker, merecidamente, tomará a palavra: cinco, quatro, três, dois, um, continuamos.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A JUSTIÇA ADMINISTRATIVA

Manuela Moura Guedes e José Eduardo Moniz são ouvidos hoje, em audições separadas, na entidade reguladora, para a comunicaçao social (ERC). Mas nem o presidente da ERC, Azeredo Lopes, nem a conselheira, Estrela Serrano, vão estar presentes, por se econtrarem de férias, confirmaram ao CM. Já os conselheiros Assis Ferreira e Luís Gonçalves da Silva interrompem as férias para estar na audição. Ao CM, Assis Ferreira disse : "O presidente do conselho regulador, quando foi votada a proposta deste processo, mostrou logo intenção de não estar presente". Também Estrela Serrano votou contra a abertura deste processo.

1989-2009

Hoje percebo melhor o Sócrates, meu professor de Filosofia no 12º ano. O Sócrates foi o ser mais inteligente que conheci nesta vida.

Apareceu de gabardine azul, guarda-chuva de bico metálico, só metade dos cabelos brancos, sorriso discreto e um ar que era dele. A turma (gosto do termo, na internet deve soar brasileiro) arrumou-se por ali acima, numa sala cheia de cadeiras com tampos corridos de madeira antiga, que subiam em filas paralelas até ao tecto como num anfiteatro.

A turma vestia-se bem. Para ser mais claro, rapazes éramos três. A turma, qual obra divina, fora gerada quase só de meninas adolescentes e giríssimas, as melhores de Viana. Eu tinha aterrado ali, vinha da outra escola. Queria conhecê-las mais a elas do que às lições. As lições à época já se chamavam matéria, nome escabroso que os políticos repetem em discursos e debates para capturar todas as coisas e simular o seu domínio. O único pormenor estranho ao plano colectivo de nos conhecermos uns aos outros era a necessidade de sacar uma notas altas para garantir acesso a um curso de Direito, ou de Direito, Sociologia, Direito e no meu caso de jornalismo em Lisboa. Tinha que ser em Lisboa porque é onde tudo se passa. Não havia telemóveis mas a turma fazia ruído com todas as roupas, todos os cadernos de argolas, todas as palavras e as coisas. A turma era uma gargalhada moderada mas contínua, uma coisa bonita e saudável à séria.


O Sócrates sentou-se e não interrompeu. Foi a primeira vez que, abstendo-se, levou a turma ao comportamento absurdo de se calar sem ordem ou convite. Demorou, claro que demorou, mas fez-se silêncio, um silêncio total e sem sentido. Só depois aquele professor velho, sentado, de gabardine azul ainda engomada e guarda-chuva entretanto arrumado ao canto direito do estrado, se apresentou.

Eu sou o Sócrates, o vosso professor de Filosofia do 12º ano.

A turma era justamente desconfiada de professores velhos, por medo que dificultassem o plano central, urgente e permanente, dia fora e noite dentro, de viver a vida. Nada pode haver de mais justo. Digo-o como se fosse a minha ideologia, sem puto de ironia.

Mas viver a vida, no sofisticado 12º ano de escolaridade, implicava sacar umas notas. Roubar é crime. Sacar, juro que aprendi na escola, não é o seu eufemismo mas um recurso universal. Consistia, à época, em decorar, despejar e não aprender nada. Quem soubesse escrever umas coisas nos testes era íntimo desse expediente. Um bocado de matéria espalhado por frases sem erros não só garantia sucesso escolar como prometia acesso livre de maçadorias ao complexo sistema de títulos académicos, empregos, salários, poder de compra e reconhecimento social dos portugueses. Nada disso era, ainda, demasiado importante. A turma, justamente, queria era festas. Sacava notas e festejava todas as coisas.

Depois da objectiva apresentação do Sócrates tivemos tempo de sentir isto tudo no mais absurdo silêncio. Foi quando ele interrompeu outra vez, para perguntar à turma se tinha perguntas. Recordo-me que foi divertido. Então, como se chama? Fernandes Costa, acho que disse assim mas do nome próprio não estou tão absolutamente seguro. Mas a rapaziada resolveu chamar-me Sócrates, eu até nem me identifico, chamaram-me sem estudar bem o assunto, mas ficou dito, Sócrates.

E Sócrates, contra quase todos os estereótipos de professores divertidos que conhecera até aí, foi o mais rigoroso e científico dos professores. Os testes dele tinham seis perguntas mas podiam ser respondidos numa página A4, de caligrafia grossa. Não dava para despejar, ele só reconhecia a precisão. Culto, conhecia os livros como ninguém. Lúcido, isso não o impediu de saber o que o sistema queria, estudava-o por dentro. Eu não, que o meu curso não requeria, mas várias na turma fizeram a prova específica de Filosofia, uma prova nacional classificada por professores desconhecidos a partir de uma grelha de avaliação fabricada no ministério da Avenida 5 de Outubro. Tiveram todas entre 92 e 98 por cento. Os resultados das alunas do Sócrates foram um acontecimento na escola mas ele quase não ia à sala de professores e fingia nem ouvir os elogios.

Estava como que vocacionado para o isolamento. Poucos amigos e hábitos simples, como a bica antes das aulas. Um dia, num pequeno-almoço no café Kanimambo, sentou-se à minha mesa e perguntou-me se estava mesmo decidido a ser jornalista. Ouviu-me com atenção mas pressenti-lhe o desgosto escondido atrás de uma piada qualquer. Acho que foi aí que me contou que tinha crescido profissionalmente em Lisboa mas fora parar à província. Aconselhou-me a sair daqui. Se quisesse muito fazer jornalismo que trabalhasse como correspondente no estrangeiro. Resisti. Nas aulas tinha aprendido com ele, nuns textos antigos, que as coisas são o que são mas não são ao mesmo tempo. Pensei que isso quisesse dizer que sempre poderiam ser diferentes. Esqueci-me de fazer a síntese, de o valorizar a ele, o espírito de si, o espírito fino dele, no café, sem puto de matéria. Fino e puto (eram assim desconcertantes as expressões dele, nos intervalos de conceitos rigorosos falava por piadas em itálico). Entre duas dentadas num croissant misto prensado, o Sócrates foi o primeiro a avisar-me: isto é o que é e já não vai a tempo de ser diferente.

domingo, 13 de dezembro de 2009

TGV

A "saída da crise" (clicar, reportagem DN/Lusa)
ou um "erro histórico" ? (clicar, reportagem TVI)

Plan Impulso Transporte de Mercancías por Ferrocarril - Adif

E como se faz em Espanha (clicar na imagem, vídeo do governo espanhol)

sábado, 12 de dezembro de 2009

JORNALISMO E MEMÓRIA

« "Dada a precariedade, estarão os jornalistas mais dependentes?

Estamos na época do Jornalismo de 'low-cost'. Em Portugal, as empresas desprezam e desfazem-se dos mais experientes e qualificados. Sabe que o ex-director do "Washington Post", Ben Bradlee, hoje com mais de 80 anos, continua a ir todos os dias para o jornal, onde tem o seu gabinete e é ouvido sobre questões importantes? Em Portugal, não se investe na melhoria dos recursos humanos das redacções. Curiosamente, as empresa de comunicação vão ao mercado buscar jornalistas qualificados. E então temos hoje um cenário curioso: redacções escassas em pessoas e meios e empresas de comunicação bem organizadas. A continuar assim, não é o jornalismo que está em causa - é a própria democracia.

Por que dedica esta obra a João Mesquita?

Era um grande amigo e um jornalista apaixonado de antes quebrar que torcer. Dos incómodos, percebe? Mas, para além disso, foi uma pessoa com quem conversei horas a fio sobre o projecto deste livro. E mesmo na fase da preparação das entrevistas, trocámos muitas impressões. E sempre foi um jornalista e um cidadão muito preocupado com as questões da memória. É nestes momentos que me ocorre aquele fragmento do Mário Sá-Carneiro: "Morrem cedo os que os deuses amam". »


João Figueira, autor de "Jornalismo em Liberdade", in JN

P.S.: Todos os dias me lembro do João, como me lembro do Torcato. Preferia lembrá-los só pelas infinitas memórias pessoais que me deixaram. Mas lembro-me muito deles por causa do desgraçado momento que este país e a nossa profissão atravessam. CE

domingo, 29 de novembro de 2009

GRIPE A: NOTÍCIAS, SAÚDE PÚBLICA E PROPAGANDA

Sobre a gripe A, as notícias e as políticas de informação e de saúde do governo, entrei em moderado debate com Carlos Arroz, médico e sindicalista que respeito e autor de um "blog" que me dá prazer ler (aqui está um articulista desperdiçado pela nossa imprensa).

Sobre comunicação e política tenho critérios formados ao longo dos anos que me permitem analisar os fenómenos sem me abster de ter opinião. Já sobre a Gripe A, que não estudei nem tratei profissionalmente, sinto-me bastante "verde" e inseguro. Aconteceu o que tinha de acontecer. Levei logo uma porrada à antiga, sobretudo em mensagens trocadas por sms, porque o Carlos Arroz é um cavalheiro mas não perdoa à ignorância e faz muito bem.

Irritado por ter caído na tentação de opinar sem conhecimento "suficiente" de causa desatei a procurar informação de qualidade para as minhas "FAQ", singelas questões que toda a gente andará frequentemente a levantar sobre o assunto sem eu disso me haver apercebido. O meu amigo Arroz aconselhou-me os "sites oficiais", eu aconselhei-o a ler este:

OCHO RAZONES PARA NO VACUNARSE CONTRA LA GRIPE A
Por Juan Gérvas,
Médico general rural, Canencia de la Sierra, Garganta de los Montes y El Cuadrón (Madrid, España), profesor de atención primaria en Salud Internacional (Escuela Nacional de Sanidad, Madrid) y profesor en Salud Pública (Facultad de Medicina, Universidad Autónoma, Madrid)

É um contributo que me parece sério. As questões, FAQ ou não, para mim são três:

1) Esta gripe causa maior mortalidade e morbilidade do que a sazonal?

2) Causa maior mortalidade e morbilidade em crianças, jovens e grávidas, ou outros grupos imprevistos?

3) Está demonstrado o benefício de tomar a vacina?

Respondidas a estas três, podemos enfrentar a questão decisiva:

4) O tratamento comunicacional e os meios alocados pelas autoridades de Saúde ao combate à Gripe A justificam-se, considerando o universo de problemas e a eficiência que deve ser especialmente exigida a uma política de saúde?

Se a estatística confirmar as afirmações do Prof. Juan Gérvas, as repostas são:

Não, não, não e... NÃO!

sábado, 28 de novembro de 2009

112: UM PROBLEMA QUE NÃO SE RESOLVE


Há pouco mais de um ano, no então Jornal Nacional de Sexta, tratei várias vezes o problema das chamadas perdidas do INEM (deixei neste espaço alguns comentários ao assunto, aqui e aqui).

O JN de Sexta pôs no ar várias peças documentadas com fotografias como esta (referente ao turno 8H/16H de quinta-feira do Centro de Orientação de Doentes de Lisboa). Mas tive ainda espaço (tempo) no jornal para uma extensa reportagem em que bombeiros, polícias e vários cidadãos contavam experiências dramáticas com o INEM. Já não disponho do "link", mas recordo-me que eram dez minutos de televisão apocalípticos. Um pai que ficou uma hora à espera de ambulância com uma criança trancada no carro depois do acidente; um filho que viu o pai morrer de enfarte sem conseguir socorro; bombeiros que andaram perdidos à procura de uma mulher desmaiada porque o INEM os mandou para uma igreja errada; polícias da central 112 a sofrerem em directo as reclamações de cidadãos furiosos porque as chamadas caíam quando eram encaminhadas para o CODU; médicos da central em pânico porque uma mulher tomara uma caixa de comprimidos e não morava na rua para a qual o sistema informático "enviara" os bombeiros.

Como os factos eram graves mas não envolviam directamente políticos, banqueiros ou outros seres poderosos no mundo dos negócios ninguém se atreveu a chamar "sensacionalista" a uma reportagem que era, de facto, um turbilhão de emoções e um verdadeiro murro no estômago. Senti eu a pancada, ao presenciar a indignidade extrema da situação e a revolta de pessoas indefesas; e sentiram-na, seguramente, todos os espectadores com critério cívivo e independente de partidarismos.

Abílio Gomes, um tenente-coronel que não conhecia e não conheço, com uma respeitável carreira militar, tinha acabado de chegar à presidência do INEM. Por mero acaso, estreava-se com uma crise mediática que devia ter estoirado antes, porque a contratação de um sistema informático duvidoso e a redução de pessoal do CODU haviam sido decisões do anterior conselho directivo, chefiado pelo médico Luís Cunha Ribeiro, que entretanto transitou para conselheiro do secretário de Estado da saúde Manuel Pizarro.

Confesso-vos que tive esperança, como cidadão, que o novo presidente do INEM percebesse a inaceitável gravidade diária da situação e tomasse todas as medidas necessárias para a resolver, custassem o que custassem em termos financeiros ou de pequena política do Ministério da Saúde. Recordo-me de lhe fazer chegar a mensagem de que as notícias não eram "contra" ele, ou provenientes de algum lobby apostado em queimá-lo à nascença. A carreira militar e as referências elogiosas de algumas pessoas que o conhecem levaram-me a acreditar profundamente que o problema iria ser resolvido.

Abílio Gomes só me decepcionou quando, chamado ao Parlamento, optou por um discurso justificativo. Disse então que não havia chamadas perdidas no INEM e que as chamadas eram "desligadas" pelos contactantes, devido ao "tempo psicológico" de quem passa por situações de urgência. As pessoas que eu tinha entrevistado - e eu próprio, que uma vez pedi socorro para um carro caído numa ravina e não fui atendido - acabavam responsabilizadas depois de terem sido vítimas. Recordo que algumas me telefonaram, interessadas em responder na televisão ao presidente do INEM. Entendi totalmente a indignação, mas acabei por não concretizar a ideia, que me pareceu excessiva depois de tantas peças a denunciar o assunto. O INEM decidira lançar uma auditoria interna ao sistema informático e eu confiei que tudo se encaminharia para uma solução definitiva. Pareceu-me adequado deixar o novo Conselho Directivo trabalhar em paz, aliviando, na parte que me cabia, a pressão mediática.

Houve mais um sinal negativo, que foi a retirada do sistema informático do CODU dos indicadores de qualidade e resposta que se podem ver na fotografia, fruto de um reaparecimento que julgo saber furtuito esta semana. Para além da auditoria, o INEM lançou um concurso para a contratação de mais operadores de atendimento e introduziu algumas novidades ao sistema informático do CODU, como o call back, um instrumento que me parece discutível em emergência médica se usado sistematicamente, como acontece.

Acho que errei por omissão ao longo de um ano. Objectivamente, o INEM pode até ter melhorado
alguma coisa, mas não resolveu o problema, como se pode ver nesta reportagem de quinta-feira.

Palavra de honra que preferia não ter de dar estas notícias.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A ESPIONAGEM POLÍTICA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO GRAVA CONVERSAS DE JORNALISTAS

Funcionário do Gabinete da Ministra deixa gravador ligado na sala de imprensa.

O gravador, que esteve sempre ligado, só foi descoberto após um jornalista da TVI se dirigir à mesa para reposicionar o microfone, momento em que encontrou o aparelho ligado a gravar. E foi nessa altura que todos os jornalistas presentes se aperceberam da gravidade do caso. Apagar os nove minutos de conversas gravadas foi a primeira decisão que tomaram em conjunto.

Foi, nesse momento, que o mesmo funcionário entrou outra vez na sala de imprensa e voltou a ligar o gravador, saindo sem se identificar. Alguns jornalistas foram atrás dele para perguntar quem era e porque estava a gravar conversas informais. O funcionário voltou as costas e seguiu caminho sem dar resposta. Foi preciso alguma insistência para finalmente se identificar como António Correia, membro do gabinete da ministra da Educação. À pergunta sobre qual era a intenção de gravar conversas de jornalistas, o funcionário respondeu desta forma: "Temos as mesmas armas".


Isto é de uma gravidade extrema. Estou à espera de quanto tempo e quanta vergonha vai o ministro Vieira da Silva precisar para pedir a demissão da ministra Isabel Alçada.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O SENHOR DIRECTOR

"Não é muito recomendável que um jornalista da RTP que esteja a fazer a cobertura de uma história manifeste opiniões tendenciosas no seu blogue. É discutível. Mas depende também de como o fizer.

Tem Twitter e Facebook?

Tenho, mas discretos. O "The New York Times", no código de conduta que estabeleceu, chegou a um limite muito curioso: sugeriu aos jornalistas que tenham atenção aos amigos aceites no Facebook. "Porque se tiverem muitos 'friends' do partido democrata, vocês estão a pôr em causa a vossa independência".

Costuma receber telefonemas de José Sócrates?

Eu falo com toda a gente. Falo com toda a gente."

Entrevista de José Alberto Carvalho, JN

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"O sítio, manhoso, pobre, deprimido, cheio de larápios, recheado de mentirosos e obviamente cada vez mais mal frequentado, vai rapidamente retomar a sua vidinha triste e cinzenta. E as autoridades do costume vão imediatamente tomar as medidas necessárias e suficientes para impedir que algum espião perverso ao serviço de forças ocultas possa mais alguma vez perturbar os negócios, os arranjinhos, as vigarices e os tráficos de influência das mais altas figuras do Estado de Direito. É caso para dizer que o sítio não tem presente, não tem futuro, mas tem almeidas competentes e eficazes que no momento certo varrem o lixo para as profundezas do Inferno".

António Ribeiro Ferreira, "Almeidas do Regime", in Correio da Manhã

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A JUSTIÇA

- Já que nos encontrámos, que tal irmos jantar?

E A CONSTITUIÇÃO

"O Bastonário Marinho e Pinto, sobre o caso das sucatas e das escutas indirectas ao primeiro-ministro, disse que os investigadores, logo que percebessem que José S. estava a ser escutado por ter falado com um dos suspeitos, deveriam ter terminado a escuta. Logo, ali. Porquê?

Ora, porque a lei processual penal, no seu artº 11º, depois da reforma penal de Rui Pereira, atribuiu ao presidente do STJ a competência exclusiva para autorizar as escutas ao primeiro-ministro. Marinho e Pinto até disse mais: que era preciso acabar com este fundamentalismo justiceiro de quem investiga. Vejamos melhor.

Marinho e Pinto conhece a Constituição e o que a mesma diz no artº 13 nº 1.:Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

Marinho e Pinto achará que um primeiro-ministro é um cidadão desigual aos outros, num patamar superior, que merece um foro próprio e específico para a investigação criminal nesse aspecto particular das intercepções telefónicas? A que propósito e com que justificação teórica?

Mais e melhor: quem terá sido o autor desta modificação da lei processual penal e que tal entendimento peregrino permite ao Bastonário da Ordem dos Advogados? Foi a Assembleia da República e o Pacto para a Justiça, dirá Marinho e Pinto. Mas...terá sido mesmo assim?"

José, in Porta da Loja (sublinhados meus)

PENSAMENTO DO DIA

"Para os nossos amigos, tudo;

aos nossos inimigos, nada;

aos demais, aplique-se a Lei"

autor bem conhecido

terça-feira, 3 de novembro de 2009

VERBOS

O Departamento de Informática e o Grupo de Fala e Linguagem Natural da Universidade de Lisboa desenvolveram um notável instrumento de trabalho para todos os aspirantes à língua portuguesa.

Um conjugador de verbos, que aqui partilho todo contente.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

UM MINISTRO "BEM COLOCADO"

A organização Repórteres Sem Fronteiras considera que a liberdade de imprensa diminuiu este ano em Portugal, com uma queda do 16.º para o 30.º lugar na lista dos países que mais respeitam o trabalho dos jornalistas.

Apesar de classificar Portugal como estando "em boa situação" face à liberdade de imprensa, a organização internacional afirma ter-se verificado uma queda de 14 posições na lista dos mais respeitadores da liberdade de imprensa, passando a estar ao mesmo nível da Costa Rica e do Malí.

Algumas atitudes do Primeiro-ministro José Sócrates contribuíram para esta descida, bem como o facto de ainda ser preciso uma licença para abrir um jornal, explica Olivier Basille, dos Repórteres Sem Fronteiras, em declarações à Renascença.

“Durante o ano de 2009, o Primeiro-ministro processou, pelo menos, nove jornalistas por difamação, o que não é um bom sinal para o seio da União Europeia e, em particular, para a democracia europeia”, afirma.No ano passado, Portugal estava em 16º lugar, a par da Holanda, Lituânia e República Checa.

Entrevistado pela Renascença, o ministro da tutela da comunicação social, Augusto Santos Silva, desvaloriza a queda registada pelo nosso país neste ranking, afirmando que, apesar de ter descido 14 posições, Portugal surge ainda bem colocado.

in Rádio Renascença

domingo, 18 de outubro de 2009

"Muita aflição, muita dor, muitas lágrimas, muitas preces; muitos votos e ladainhas, muitas bofetadas em si mesmo, muitas demonstrações de contrição e muitos clamores a Nossa Senhora: disto se exceptuava uma única alma - um escravo - que começara a fazer grandíssima festa, agitando-se desvairadamente e comendo doces, que não faltavam. Gritava de júbilo. Saltou para a água que entrara na nau; e, nadando nela como num tanque, dava mergulhos e zombava dos mais, clamando que enfim já era livre. Sim! Ia morrer, mas era livre!"

A Catástrofe da Nau "Santiago", em 17 de Agosto de 1585


in História Trágico-Marítima


Autor Desconhecido, Adaptação de António Sérgio

sábado, 10 de outubro de 2009

OFTALMOLOG$A

"Num simples ano, os oftalmologistas que mantinham uma lista de espera ética e moralmente inaceitável, operaram, nos mesmos seviços onde nunca conseguiam arranjar condições, 128.000 almas desejosas de poder voltar a ver o sorriso de um neto, a cara de um político em dia de derrota, quiçá o sorriso do seu médico de família, confidente de dificuldades e angústias. Milagre? Não. Longe disso. O milagre tem o contorno e o conforto ético de € 800 por intervenção.

Com a pequena diferença de € 800 por intervenção foi vê-los tarde, noites, Sábados inteiros despachando doentes a um ritmo que os tinha escandalizado quando tal proeza era assegurada por um espanhol no Barreiro. Os doutores até as macas empurraram para a coisa ser lesta, dizem, mais uma vez, as más linguas".

Hermínio, In "Desabafos de um Sindicalista"

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

DESCULPA



Vinte jornalistas começam quarta-feira a ser julgados por "violação" do segredo de Justiça no processo Casa Pia.

Pela violação reiterada de miúdos pobres ninguém foi condenado.

Muitos violadores não foram, sequer, maçados com o assunto.

Pelo "abafamento" de processos ao longo dos tempos ninguém vai ser julgado.

A protecção aos criminosos não deu cabo de uma única carreira política.

Se os jornalistas tivessem metido os segredos na gaveta e falassem deles à mesa do café não teria havido problema.

Se os tivessem usado para chantagear poderosos teriam subido na vida.

A grande "reforma" das leis penais vai facilitar a condenação nestes "casos".

Capitão Salgueiro Maia,

só me resta pedir desculpa.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

DAS FONTES

"O trabalho de reportagem do "Diário de Notícias" é das mais notáveis e consequentes peças jornalísticas na história da Imprensa em Portugal. O e-mail com registos claros da encomenda feita por Fernando Lima não é "correspondência privada" que se deixe passar pudicamente ao lado. É uma infâmia pública de gravidade nacional que exige denúncia.
Invocar aqui delações, divulgação de fontes ou violação de correspondência é desonesto".


Mário Crespo, in Jornal de Notícias

O que eu penso já partilhei aqui. Mas interessa-me a opinião contrária, de um jornalista que respeito. Descontando o tom apologético, só uma discordância insanável.

Por maior importância que se atribua ao "assunto principal", a questão da divulgação de fontes confidenciais não pode ser relativizada.

As fontes confidencias de informação são um património imprescindível do jornalismo, da democracia e da Liberdade.

No dia em que as potenciais fontes confidenciais de informação tiverem medo de contactar jornalistas está tudo acabado.

domingo, 27 de setembro de 2009

Bob Dylan, em Portugal, hoje, facilmente seria considerado um mau cantor.

Pergunto-me, até, se não causaria outra vez escândalo na televisão.

Nesta versão de "The Sound of Silence", o velho provocador estético canta menos e melhor do que o perfeito e apolíneo Art Garfunkel.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A PALAVRA JUSTA



Não conheço Fernando Lima de lado nenhum, nem sequer saberia reconhecer-lhe a voz.

Nunca votei Cavaco.

Mas esta notícia agrada-me.

A nenhum jornalista deverá ser dado o direito a "fazer a folha" a Fernando Lima por ele eventualmente ter vindo contar uma notícia, por mais falsa que fosse.

Denunciar fontes é uma pulhice.

Quando um jornalista publica é porque acredita, caso contrário não seria digno de ser lido.

Quando um jornalista publica é porque está preparado para assumir as suas responsabilidades. Perante um leitor, um juiz e até um carcereiro.

Sem nunca gritar "ò da fonte!".

Denunciar fontes dos outros é o dobro da pulhice, um dobro tão grande que não consigo encontrar uma palavra suficientemente justa.

domingo, 20 de setembro de 2009

CONTRAMUNDO, CANÇÃO GALEGA



Eu (io)chorar chorei o domingo a tarde

Que veña Lorenzo

Que diga a verdade

Que diga a verdade pero con cautela

A NEGRA

"Por vontade expressa do candidato do Partido Socialista, José Sócrates, esta entrevista não foi filmada".

RDP/ANTENA 1

Mas vale a pena ouvir, na íntegra, a entrevista de Maria Flor Pedroso a José Sócrates.

O excerto que se segue é uma explicação possível para a inesperada negra. Mas tal não se afirma aqui porque para se dizer qualquer coisa, por mais óbvia, por ora é preciso "provas".

sábado, 19 de setembro de 2009

JORNALISMO E PODER



Obviamente, a corrente dominante da crítica de jornalismo publicada nos últimos meses não resiste minimamente aos factos, como estes expostos aos olhos de quem compra o Público, lê o caderno P2 e encontra a crónica de Eduardo Cintra Torres (ECT).

Só que ECT, para desgraça de quem gostaria de ver a sua profissão discutida democraticamente, em bases racionais, vai raramente à televisão. Nos últimos meses, a crítica de jornalismo no meio que verdadeiramente chega a todos os portugueses tem sido reservada a vultos do jornalismo independente como José Lello, Arons de Carvalho ou mesmo José Sócrates.

Claro que também há Estrela Serrano, o jornalista Orlando do conselho-deontológico-que- esconde-os-votos-de-vencido e directores de grandes jornais de investigação, como o "DN" ou o "24 Horas", e tanta outra gente desinteressada a "malhar" no mesmo sentido.

Fico-me com os factos.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A "encomenda"

O Público, quando escreveu que a Presidência da República suspeita estar a ser alvo de vigilância ilegal do Governo, atribuiu a notícia a uma "fonte da Casa Civil" de Cavaco Silva.

Essa fonte foi identificada até onde era possível, nos termos do livro de estilo do Público, mas sem violar a decência de um contrato verbal de confidencialidade estabelecido entre o jornalista e a sua fonte, de resto protegido por qualquer manual de Jornalismo e até mesmo no código deontológico português:

"O jornalista deve usar como critério fundamental a identificação das fontes. O jornalista não deve revelar, mesmo em juízo, as suas fontes confidenciais de informação, nem desrespeitar os compromissos assumidos, excepto se o tentarem usar para canalizar informações falsas. "

O "DN", hoje, publica correspondência privada entre jornalistas do Público.

Trata-se de uma opção editorial arriscada.

Desde logo, nos termos do referido código deontológico português:

"O jornalista deve utilizar meios leais para obter informações, imagens ou documentos e proibir-se de abusar da boa-fé de quem quer que seja".

Depois, porque o "DN", que em tempos ficou famoso por divugar as próprias fontes, surpreende agora ao denunciar as fontes da concorrência. João Marcelino, numa nota da Direcção, justifica a publicação desta correspondência privada com o "interesse nacional".

A minha primeira pulsão, como jornalista, não será nunca a de criticar a divulgação por um jornal de informação que os seus jornalistas acreditam ser verdadeira, por mais que relativize a visão de cada um quanto ao "interesse nacional".

Mas há uma questão de decência.

Se o "DN" acha que pode invadir ou beneficiar da invasão de correspondência privada, ainda por cima para denunciar fontes confidenciais de informação de jornalistas de um jornal concorrente, deve ser consequente.

Quem é a fonte do "DN"?

Em nome do "interesse nacional" de João Marcelino, qualquer leitor que tenha comprado o "DN" de hoje tem o direito de perguntar:

Quem é a fonte do "DN"?

Se o "DN" acha que as fontes de informação podem ser divulgadas - e que nalguns casos de "interesse nacional" devem ser denunciadas - deve ele próprio denunciar:

Quem é a fonte do "DN"?

No caso em apreço, não é só uma questão de decência.

A traição do "DN" à sua fonte pode esclarecer a questão de fundo. Quem, em Portugal, anda a violar a correspondência de jornalistas? Será o SIS ou um gabinete ad-hoc de informações? E ao serviço de quem?

A notícia do "DN" é a materialização que faltava de um facto que porventura queria ridicularizar, no que à Presidência da República possa dizer respeito: há escutas e violação de comunicações privadas em Portugal, feitas à margem da lei e politicamente orientadas.

Depois, há outro problema.

O "DN" qualifica um contrato estabelecido entre uma fonte de informação e um jornalista do Público como "encomenda".

O termo "encomenda" qualifica, obviamente, os jornalistas que o usam.

O "DN" reconhece às suas fontes confidencias de informação interesse para alguma coisa? Ou acredita, como parece, que só recebe "encomendas"?

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

BRAÇOS DESCIDOS

Boa parte da comunicação social caminha ela própria, pelos passos que enceta, para a perda da liberdade. Não só não tem meios para ser livre, como desceu os braços na luta por uma sociedade livre. Não se trata tanto de alguém a pressionar ou censurar.

Trata-se de cada comunicador, por sua conta e risco, ter medo de dizer ou escrever o que pensa ou o que sabe. Manter o emprego e alinhar com a voz imperante é mais cómodo.

É mais do que consequente que esta falta de liberdade, um dos valores perdidos nos arranjos de interesses encadeados, está a conduzir, se não a provocar, a crise do sistema democrático

D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa, in Correio da Manhã

sábado, 5 de setembro de 2009

O FIM DA MAGIA

E aquilo que nesse momento

Se revelará aos povos

Surpreenderá a todos,

não por ser exótico

Mas pelo facto de poder ter sempre estado oculto

Quando terá sido

o Óbvio

"Um Índio", Caetano Veloso

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O PROCURADO


Tenho uma amiga que vende livros. Ela contou-me, há muito tempo, uma coisa curiosa. Que todas as semanas, quase sem excepção, lhe aparece um cliente à procura deste livro. Às vezes, dois ou três, como se estivessem combinados.

Mas este livro desapareceu, não está à venda. Numa sociedade de mercado parece estranho haver uma procura assim sem ser satisfeita. A minha amiga esforça-se por acalmar os clientes. O tempo passa. Nós vamos renovando a conversa quando nos encontramos. Ela descreve-me as perguntas sem resposta dos insatisfeitos da sua livraria e eu fico-me assim, sem comentários.

Outro amigo deixou-me entretanto fotocopiar um exemplar.

Hoje percebi que o livro pode ser integralmente descarregado da internet. Deixo aqui o link como quem devolve uma história roubada a todos os que durante anos passaram pela livraria e fizeram uma colecção de perguntas e às vezes interessantes comentários que colecciono num caderninho, sem saber bem para quê.


terça-feira, 4 de agosto de 2009

FUTEBOL E OBRINHAS


O Sporting acaba de beneficiar de um golpe de sorte como não há memória para ultrapassar a pré-pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Com toda a probabilidade, será eliminado na próxima.

O modelo de gestão do Sporting, o que sobra do chamado "projecto Roquette", não tem qualquer futuro em termos desportivos.

A equipa está esgotada. Não tem um único lateral verdadeiramente competitivo, sonha com os melhores extremos do Mundo saídos de Alvalade, passa jogos inteiros sem cruzar devidamente uma bola e depende do penteado do Veloso para controlar o meio campo. Às vezes faz umas meias partes fantásticas, mas tanto joga bem como anda de gatas.

Na melhor das hipóteses, o Sporting poderá voltar a falhar por pouco, ou relativamente pouco, campeonatos que há uns anos seriam fáceis, como o do ano passado.

Qualquer autocarro de Paços de Ferreira lhe fará um caixão de pontos, a qualquer árbitro bastará um apito no momento certo para enterrar a equipa por completo.

O clube, de resto, desistiu há uns anos. A maioria dos adeptos engoliu o discurso da gestão certinha e dos milagres de São Bento e não põe os pés no estádio.

O que irrita mais no Sporting é a certeza de que teria ganho vários campeonatos com um pouco mais de investimento e gestão verdadeiramente desportiva. Há no mercado jogadores para as laterais, ou para fazer de cães a meio campo, que já teriam permitido ao Sporting, por pouco dinheiro, ter uma equipa sem andar todas as jornadas a sortear o número 2, o 3 e o 6.

Mas, para o Sporting, qualquer um é caro. O consórcio bancário que comprou o clube - e investiu ao mesmo tempo nos rivais - põe na tribuna administradores delegados com muitas competências, mas todas por azar estranhas ao futebol. Festejam umas taças, recebem prémios por segundos lugares, mas não ganham um campeonato nem fazem um único grande negócio.

O mais espantoso e revoltante é ver esses gestores conformados, quando se trata do dinheiro do Estado, defenderem exactamente o contrário.

Para um clube com a história do Sporting qualquer investimento é caro, mesmo que isso hipoteque a menor hipótese de sucesso desportivo e condene um bom treinador e alguns grandes jogadores a anos de frustrações e carreiras a seco.

Já para um Estado endividado e pobre como Portugal, onde quem trabalha por conta de outrém não tem como pagar mais impostos, qualquer obra é boa, sobretudo se o preço for caro.

Filipe Soares Franco deveria contentar-se com o seu curriculum de brincadeiras futebolísticas, do qual ninguém guardará memória. Porque não vai antes vender as suas obrinhas para a Holanda? Os do Twente não precisarão de um novo estádio, já que este lhes deu tanto azar?

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

FAUSTO: A GRANDE NOTÍCIA



Das férias, trago uma grande notícia. Vai ser possível voltar a ouvir Fausto ao vivo.

Parece que vai ser em Lisboa, lá para Setembro ou Outubro, no Campo Pequeno.

Fausto é a minha notícia. Mas, na verdade, ouvi falar de um espectáculo conceptual a três: Fausto, José Mário Branco e Sérgio Godinho.

Fausto é uma fixação minha, talvez porque só o ouvi ao vivo uma vez.

José Mário Branco engoliu a revolução, o sonho e a mentira, a cobardia e a loucura colectivas, Apolo e Dionísio. E numa noite vomitou tudo: O FMI, que passei na rádio e ouvi em casa do João em Coimbra (1) (2), para mim é a canção de intervenção.

Sérgio Godinho é poesia: o músico que faz a língua estrebuchar.

Fausto, ainda assim, tornou-se o meu preferido. Na música dele parece caber o tempo e a terra toda deste país. Quando tenho dúvidas de que Portugal existe ponho Fausto a tocar e fico sempre viciado outra vez.



quinta-feira, 16 de julho de 2009

A QUESTÃO DE LISBOA

Começou a caça ao voto em Lisboa. Confesso-vos que não estou para ouvir falar de promessas, da circulação de automóveis, da requalificação urbana, de obras a brincar nos miradouros, como a que fizeram aqui na Graça.

O meu critério é o aeroporto.

Há uns doidos que querem acabar com ele e fazer como os gregos. Um aeroporto caro, fora de Atenas, com taxas brutais, que levou à falência a companhia a aérea grega e uma série interminável de hóteis.

Os candidatos do sindicato bancário e da construção civil que reivindica esse projecto devem ficar com os votos do sindicato bancário e da construção civil.

Com o meu voto, nem sonhem. Eu sei bem a importância dos turistas para a economia do meu bairro. E não estou para ir apanhar vôos ao Porto, ou a Faro, quando quiser viajar.

Alcochete já tem disparates que cheguem. Poupem-nos a mais um escândalo.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

VICIANTE

O meu post favorito dos últimos tempos.
Vale a pena insistir para ouvir - ouver - até ao fim.

BALLET ROSE

Um texto imperdível do José, para ler aqui.

Um dia, seguramente, toda a gente vai saber o que agora quase toda a gente sabe.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O estado da Justiça...

Representantes de juízes, magistrados do Ministério Público e advogados fazem um "balanço negativo" do ano judicial, que entra de férias em Agosto, criticando o sistema informático CITIUS, as novas custas judiciais e a governamentalização da investigação criminal.

in Público

... e o estado do Jornalismo

TSF muda editores...

Teresa Dias Mendes, que deixará de fazer política na TSF, foi protagonista de um episódio durante a última campanha para as eleições europeias, em que o conteúdo de uma peça assinada pela jornalista não agradou ao primeiro-ministro. A peça aludia a referências, embora indirectas, de José Sócrates ao sindicalista Mário Nogueira, com o primeiro-ministro a sugerir que o dirigente da Fenprof estaria a ser manipulado politicamente.O episódio levou a uma intervenção do gabinete de José Sócrates junto da direcção da TSF e a uma troca de palavras entre a jornalista e o próprio Sócrates num jantar de campanha em Viseu, uma semana antes das eleições. Segundo Paulo Baldaia, que frisa que as alterações partiram todas de “decisões da direcção”, nenhuma das mudanças terá efeito imediato: “Serão alterações para a nova grelha, só para Outubro.”

in Público

quinta-feira, 9 de julho de 2009

UM ARGUIDO DE COSTAS LARGAS

Isaltino Morais teve autorização para abandonar o seu (sem aspas) julgamento a meio, durante as alegações do Ministério Público.

Grande número político, o proporcionado por um tribunal.

O procurador em exercício estava ali a dizer umas coisas desagradáveis e o ex-procurador presidente de câmara voltou-lhe costas largas.

Espero que, de hoje em diante, todos os arguidos tenham igual estatuto part-time. Ou melhor: não espero, já não espero nada.

HUMOR POLÍTICO

domingo, 31 de maio de 2009

INFORMAÇÃO E PROPAGANDA


As notícias do Jornal de Sexta poderiam ser desmentidas, se fossem falsas.

As notícias do Jornal de Sexta poderiam ser ignoradas, se fossem irrelevantes.

As notícias do Jornal de Sexta poderiam ser silenciadas, se quem as faz temesse o juízo dos tribunais.

O problema é claro: as notícias do Jornal de Sexta são verdadeiras, são relevantes e a ameaça de processos revelou-se desastrosa para o autor.

Por isso, avançaram os especialistas em propaganda.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O SEU A SEU DONO

Hei-de voltar a este assunto, quando tiver lido a deliberação e as declarações de voto dos deliberantes.

Para ser verdadeiro, tenho pensado mais nos comentários "populares" sobre o jornal onde trabalho que circulam pela internet.

Portugal é o que é e os portugueses hão-de saber que "jornalismo" querem, como hão-de saber se estão satisfeitos com a educação, a justiça, a saúde, a banca, os índices de corrupção e por aí fora.

Ah!, já sei, temos uma grande "indústria" de futebol, exportadora de talentos. Deve ser isso.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A REFORMA PENAL

Família de menor espanca pedófilo

Foi identificado na Judiciária do Porto por várias crianças de uma escola de Gondomar, de quem terá abusado sexualmente, e deixou tranquilamente o edifício da PJ ao final da manhã – a lei não permitia aos inspectores prenderem o suspeito de pedofilia fora de flagrante delito. Mas este não andou ontem mais de cem metros até esbarrar em dois familiares de uma das vítimas, que o espancaram com um taco de basebol, vários socos e pontapés.

in Correio da Manhã, ilustração de Ricardo Cabral

É fácil para mim, como para qualquer um criado a mimos e papas e bolos, ser contra a violência, a justiça pelas próprias mãos e a pena de morte.

Mas há situações na vida que não se podem antecipar: só conheceremos a nossa reacção, o nosso "behavior", se um dia passarmos por elas.

Quando cobri o processo Casa Pia percebi até que ponto a nossa legislação penal esmaga as vítimas a coberto da defesa dos direitos dos arguidos.

Claro que qualquer um criado a mimos e papas e bolos e bons conselhos é a favor dos direitos humanos.

Mas a lei existe porque, no mundo real, é preciso resolver conflitos. Ora, a lei penal portuguesa, ao tempo do processo Casa Pia, já revelava mais capacidade para criar violência do que para a suspender.

Não contentes, os pereiras desta terra fizeram uma lei penal ainda mais absurda.

E agora, vão culpar os polícias e magistrados a quem foi preciso "partir a espinha"? Falar pela milésima vez da crise da Justiça na televisão? Vão p
render os autores do "espancamento popular"? Fazer de nós parvos mais um bocadinho, não é?

Começo a convencer-me de que já estamos habituados.

PORTUGAL D'HOJE COMO HÁ DEZ ANOS

«Em Portugal já não se usam palavras. Usam-se meias palavras para tudo, do insulto ao elogio, da ordem à sugestão. A palavra de ordem é não hostilizar, contemporizar, dialogar, negociar, enganar, se for preciso! – mas não agitar.

Ser politicamente correcto é, nos dias de hoje, tão imprescindível como o telemóvel. Quem não é não está contactável. Pior: não é contactável.

Todas as suas perguntas têm cabimento no JornalD’Hoje. A nossa função é essa, perguntar e obter resposta às perguntas. E quando os senhores que se sentam na coisa pública como se fosse só deles torcerem o público nariz de desagrado pela insistência (...) há sempre uns que se calam.

Gostaria de dizer aos leitores deste jornal que há sempre uns quantos outros que perguntam outra vez o que querem saber e mais outra e outra (...) até à resposta final. E que depois vão confirmar a resposta.

Têm um nome, esses. Chamam-se jornalistas. Bem vindo ao mundo da informação regional, com qualidade nacional.»

RUI VASCO NETO
Editorial do número zero do Jornal D'Hoje
9 de Dezembro de 1999

Quem quiser saber melhor como foi há dez anos, faça o favor de se divertir.

Quem quiser saber como é hoje, faça o favor de abrir os olhos.

sábado, 9 de maio de 2009

JORNAL DE SEXTA (2)

Numa operação de serviço público aos interessados em dar trabalho a tribunais e serviços de informações aqui se oferece a prova do crime e uma fotografia dos responsáveis.

O crime foi o Jornal de Sexta ter feito um ano e ser o órgão de informação mais visto pelos portugueses.

Os responsáveis, da direita para a esquerda: Rui Araújo, Pedro Veiga, Carlos Filipe Mendonça (em baixo), Hugo Matias, Nuno Ramos de Almeida, Manuela Moura Guedes, António Prata (o chefe de redacção que põe sempre a mão no assunto), Vítor Bandarra, Maria João Figueiredo e este que se assina.

Toda a redacção é cúmplice mas, que me lembre agora, alguns dos mais cadastrados escaparam à prova fotográfica: a Ana Leal foi apanhar um avião, a Alexandra Borges um intercidades para a Cova da Beira, o Pedro Rosmaninho anda à procura de um aeroporto no Alentejo e a Cristina Carranca pode estar em qualquer lado.

A parte mais divertida do jornal são as reuniões numa salinha à prova de escutas e permeável a piadas e histórias surrealistas.

O maior orgulho é que todas as semanas mais pessoas escrevem e telefonam a contar notícias.

O problema do Prata é que as reportagens são sempre grandes demais, o da João é que nunca estão prontas a tempo (eu sou o maior culpado) e o dos jornalistas todos é ficarem sempre por emitir metade das peças. Trabalhos a mais, é o que é.

Quantos aos processos de que se fala, como se pode ver pelo postal anterior, ainda não chegaram. Mas hão-de vir, porque Justiça em Portugal, como toda a gente sabe, tarda - mas não falha.

JORNAL DE SEXTA







terça-feira, 5 de maio de 2009

PORTUGAL CHEIRA MAL


A reportagem da Alexandra Borges pode ser vista aqui. É sobre a lixeira da Cova da Beira que não é só da Cova da Beira.
O julgamento dos factos não arquivados está marcado para a próxima legislatura.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

MUITO PROVAVELMENTE

Se, neste caso de “guerra da informação”, o “ziel” era embrulhar o nome do PM num processo judicial e na berlinda mediática (explorando a sede justicialista de certos media e seus profissionais e uma velha “guerra” e ódios na corporação da magistratura), o “zweck” seria, obviamente, levá-lo a perder uma pequena parte do seu eleitorado, pequena mas suficiente para lhe retirar a maioria absoluta...

O “caso Freeport” será desvendado e Sócrates, muito provavelmente, limpo das suspeitas sobre ele lançadas... A Justiça fará o seu trabalho! Mas, para a “guerra de informação” e seus promotores, isso não interessa nada. Mesmo nada!

O “ziel” foi alcançado e, muito provavelmente, o “zweck” também...


José Mateus, in Claro

Passei os últimos dias intrigado. Não entendi o excesso de dramatização operado pelos spin doctors de José Sócrates a propósito da escaramuça que envolveu o candidato independente Vital Moreira, que no 1º de Maio chefiou uma delegação do PS ao comício da CGTP.

Escrevi excesso porque a dramatização, até um certo ponto, era previsível. Qualquer intimidação, em democracia, mete nojo à maioria como me mete a mim. E o papel da vítima é sempre credor de simpatias. Mas o excesso produz novas vítimas, credoras elas próprias do seu quinhão de solidariedade cívica. É o caso do PCP, que se apresenta agora como vítima de uma calúnia e pode apontar altos nomes aos carrascos (Sócrates, Vitalino, etc.), sem precisar de exercícios hermenêuticos de adivinhação da filiação partidária de um punhado de anónimos.

Vistas e revistas as imagens desconfio que, no limite, o PCP vai lucrar mais com o elevado debate em torno da escaramuça. Ainda se Vital Moreira tivesse mesmo sido vítima de uma agressão física, ou se não houvesse declarado logo que era o novo Mário Soares da Marinha Grande...

Estava eu nesta confusão, quando li esta sondagem. Lembrei-me logo do post do meu amigo José Mateus. Ele, muito contra a corrente, chama incompetentes aos spin doctors do primeiro-ministro. Trata-os como "relações públicas" e acusa-os de se "deixarem levar", supremo pecado em comunicação.

Claro que não estou de acordo com a análise dele ao "caso Freeport", a que eu nunca chamo "caso", mas "processo". Não confundo é o que, para mim, é essencial e acessório, quase instrumental, no texto dele.

A resposta a esta última parte reservo-a para o título deste comentário: sem sede nenhuma, nem partidária nem de água, e com um abraço ao José Mateus.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

JOKERMAN

Não posso esquecer-me desta música. A letra de Bob Dylan e a sociedade Caetano & Morelenbaum.

GRIPE

Há uns tempos que não trato como jornalista nada sobre saúde. Por isso estou mais inseguro mas também mais tentado a partilhar aqui três factos, quero dizer, três pulgas que trago atrás da orelha.

Os vírus sazonais da gripe, que não têm nomes de pássaros ou de porcos, matam que se fartam em Portugal: centenas ou mesmo milhares de portugueses por ano.

A vacinação é a grande arma contra essas epidemias mas em Portugal favorece mais o negócio do que uma estratégia racional de saúde pública. O Estado gastava menos se comprasse as vacinas por concurso público em lugar de comparticipar a sua venda nas farmácias. Com esse procedimento - e isto é que é importante - mais facilmente as poderia distribuir pelas camadas de população verdadeiramente vulneráveis.

Nas anteriores gripes mediáticas, em Portugal, não aconteceu nada para além de se terem vendido toneladas de medicamentos. Não aposto porque não estudei o assunto mas desejo e desconfio: desta vez vai acontecer o mesmo.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

CONCERTO


David Byrne é escocês e faz vídeos artísticos. O bailarino não o vai matar e agarrá-lo é impossível.


Lily Baldwin deve ser a protagonista de "The Great Curve", uma canção de 1980 dos Talking Heads. Mesmo fotografado aquele corpo é todo movimento. She is moving to describe the world.



Creatures of love.




David Byrne passou ontem por Lisboa. Fotografias de Ken Eisner, retiradas daqui.

JORNALISMO 2

Para aí 90 por cento da informação televisiva é pré-fabricada. As organizações, políticas, empresariais ou outras, especializaram-se em montar teatrinhos para fazerem passar propaganda, legítima ou não, como notícia na televisão.

Por isso vemos, por exemplo, ministros rodeados de criancinhas a anunciar cheques para o dentista. Os protagonistas, bem treinados, aproveitam o cenário e descarregam o "soundbyte" que lhes dá jeito. As criancinhas, os doentes nos hospitais e por aí fora servem de actores reais, em regra involuntários. Actores secundários mas indispensáveis à eficácia do filme.

Claro que há outra maneira de aproveitar esses simpáticos momentos de convívio entre quem quer passar mensagens e os profissionais que existem para informar as pessoas.

Um bom princípio é fazer perguntas, outro é fazer contas. Como nesta reportagem de Augusto Madureira, na SIC.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

JORNALISMO

Se contar com o jornal da Biblioteca Infantil e Juvenil de Viana do Castelo, o jornal do liceu que dava uma bronca a cada número, mais os relatos de hóquei e os directos de bobine ao ombro na Rádio Alto Minho, já sou jornalista há uns 30 anos.

Foi "O Independente", à saída da faculdade, que meu deu uma carteira profissional. Entrei no jornal que para mim era o jornal porque comprei um bilhete de comboio. No lugar ao lado do Intercidades, nessa sexta-feira, estou a ver o Pedro Loureiro, aspecto desarrumado de gajo porreiro. Abri a edição dessa semana e ele fez "play" num CD, ainda por editar, dos Bandemónio.

Foi ele que meteu conversa. Perguntou-me se podia ver o jornal. Respondi sim, toma lá, os jornais foram feitos para serem lidos, ainda mais do que comprados, com aquela arrogância de quem anda a estudar jornalismo. E aproveitei para lhe sacar os "headphones" e o Pedro Abrunhosa, que um gajo a estudar a 370 km de casa aprende a ser descarado. O Pedro, um dia eu conto, meteu-me lá, meteu-me nisto. Foi ele, fotógrafo de "O Independente" e passageiro da mesma viagem, o culpado.

No jornal aprendi o que é uma notícia. No segundo andar da Redacção havia uma folha A4 colada ao vidro do aquário. Já não me lembro dos termos exactos, mas era mais ou menos: "Notícia é o que um jornalista tem boas razões para contar e alguém tem boas razões para não querer que se saiba". A frase, por mais elaborada que fosse nos termos originais, não despertava sobressaltos. Eu e os outros jornalistas trabalhávamos rodeados de jornalistas e leitores que pensavam assim. Renegar as notícias seria absurdo.

Ainda hoje me lembro dessa frase sem sobressaltos mas estou cada vez mais só. Ao longo destes anos o ambiente mudou: a regra tornou-se excepção. A maioria das notícias, hoje em dia, são o que alguém quer que se saiba. Até se fazem manchetes de grandes jornais que não são novidade, não são notícia, pela simples razão de que alguém quer muito que se saiba.

Esse alguém não é o povo (já quase soa estranha, este palavra) consumidor de jornais. O jornalismo institucionalizou-se. Os jornalistas arranjam empregos com os políticos, comem à mesa dos banqueiros, frequentam as mesmas lojas, realizam-se com ascensões socias estranhas à profissão. Muitos jornalistas começaram a fazer parte daquela entidade a que o povo (não tenhamos medo dela) chama "eles".

Ao mesmo tempo, os factos foram substituídos por uma sofisticada retórica de "objectividade" e "equilíbrio" - totalitária - e por um processo de intenções ao menor desvio. As notícias já não são julgadas por serem verdadeiras ou falsas, mas por serem "a favor" ou "contra". A realidade foi disciplinada como a classe: não investigarás, dirás o que eu te digo; quando, por azar, não tiver sido eu a dizer-te, escreverás "alegadamente".

Não contem comigo para essa merda. Eu faço notícias e olho as pessoas do meu bairro nos olhos. Prefiro trocar de profissão a fazer outra coisa. Podem até obrigar-me a mudar de vida mas jamais a renegar a que tenho há 30 anos.

26

"Ojala", Silvio Rodriguez.

Como quem ao mudar de assunto muda mesmo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

TRAVESTIDO

As metáforas, em Português, são uma coisa poderosa.

Não é avisado recorrer a elas com aquela inconsciência de quem manda um fax para a cadeira de inglês técnico.

E se eu disser que um chico, perdão, um zé "travestido" de primeiro-ministro esteve ontem à noite na televisão?

Não poderá ser esta uma metáfora melhor do que a dele?

sexta-feira, 17 de abril de 2009

QUEM FALOU EM PRESCRIÇÃO?


HÁ QUATRO CRIMES EM INVESTIGAÇÃO NO PROCESSO FREEPORT: CORRUPÇÃO PARA ACTO ILÍCITO, TRÁFICO DE INFLUÊNCIAS, PARTICIPAÇÃO ECONÓMICA EM NEGÓCIO E BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS.
É O QUE CONSTA DE UM DESPACHO DO JUIZ DE INSTRUÇÃO DO PROCESSO, CARLOS ALEXANDRE, QUE NO FUTURO VAI DECIDIR POR QUE CRIMES OS ARGUIDOS PODERÃO VIR A SER JULGADOS.
SENDO ASSIM, O INQUÉRITO SÓ PODERÁ SER DECLARADO PRESCRITO EM 2012, NA MELHOR INTERPRETAÇÃO POSSÍVEL PARA OS INTERESSES DOS SUSPEITOS.


NOTÍCIA TVI


O Juiz Carlos Alexandre, em despacho datado de 6 de Março, declara que há quatro crimes em investigação no processo Freeport: corrupção passiva e activa para acto ilício, tráfico de influências, participação económica em negócio e branqueamento de capitais.

Os primeiros três crimes, a serem provados em tribunal, podem dar penas de prisão até 5 anos, o que quer dizer que o processo só poderá prescrever em 2012, dez anos depois dos factos sob investigação. No caso de ser provado o branqueamento de capitais, a pena de prisão pode ir até 12 anos, o que quer dizer que o processo só poderá ser declarado extinto, por prescrição, em 2017, quinze anos depois do crime.

Com este despacho, o juiz do processo qualifica da forma mais grave possível a corrupção e o tráfico de influências que possam ter levado ao licenciamento do maior "outlet" da Europa em plena zona protegida do estuário do Tejo. Esses crimes, a serem comprovados, estiveram ainda na origem de actos ilícitos da administração pública. Os ministros, autarcas ou funcionários públicos que se tenham deixado corromper violaram também os poderes que a lei lhes confere ao aprovar o empreendimento.

Mesmo que a corrupção fosse para acto lícito, hipótese afastada por Carlos Alexandre, sobrava ainda o crime de participação económica em negócio, previsto na lei para punir o ministro, autarca ou funcionário público que, "com intenção de obter vantagam económica ilícita para si ou para terceiro" - como, por exemplo, o financiamento de um partido político - lesar os interesses do Estado que lhe cumpre defender. Só este crime dá cinco anos de prisão e por isso só prescreve em 2012.

A teoria da prescrição do Freeport cai assim por terra. Recorde-se que os procuradores Vítor Magalhães e Paes Faria, que investigam o processo, denunciaram uma pressão nesse sentido exercida por Lopes da Mota, ex-colega de Governo de José Sócrates e actual presidente do Eurojust, organismo encarregado, no caso Freeport, de fazer a cooperação com a polícia inglesa. Lopes da Mota já negou ter exercido essa pressão, mas, em entrevista ao Diário de Notícias, confessou ter dito aos magistrados que "o Primeiro Ministro quer o assunto resolvido rapidamente".

Sucede que essa pressa não tem fundamento jurídico. Os magistrados do Ministério Público Vítor Magalhães e Paes Faria têm, no mínimo, mais três anos para constituir José Sócrates arguido, caso o considerem, como considerou a polícia inglesa, "suspeito da prática de actos corruptos".
A prescrição é que não será nunca o caminho para livrar o primeiro-ministro, rapidamente, deste processo.

domingo, 29 de março de 2009

Para quê perder tempo com o bastonário?


António Ribeiro Ferreira (ARF) – A maçonaria não admite corruptos e sempre disse que esse era um dos seus grandes combates.

António Reis - De maneira nenhuma. Isso vai absolutamente contra os nossos princípios. Os maçons são homens honestos. É uma das expressões que figuram em todos os textos da maçonaria. Além de livres e de bons costumes. Isso é incompatível. E mais. Uma das preocupações das ordens maçónicas em todo o mundo é essa. Estou a lembrar-me do Brasil em que está em curso uma grande campanha promovida por organizações maçónicas contra a corrupção. E em Portugal já me pronunciei sobre essa matéria.
E manifestei-me favorável ao pacote João Cravinho contra a corrupção.

ARF – E que a maioria dos deputados do PS recusou.

-
Infelizmente. O que comprova que a maçonaria não controla o grupo parlamentar do PS.

LC – Como é que vê a posição do PS nesta questão da corrupção?

- Pessoalmente acho que houve um excesso de prudência do grupo parlamentar nesta matéria. Apesar de tudo foi aprovado outro pacote, com medidas positivas, outras excessivamente tímidas, mas espero que as positivas dêem resultado.

LC – Mas é um pacote muito tímido em relação às propostas de Cravinho.

- Sem dúvida. E daí que eu tenha tomado uma posição favorável ao pacote do engenheiro Cravinho.

ARF – Não fica chocado quando ouve altos responsáveis do Ministério Público dizerem que há políticos pobres que ficam milionários pouco tempo depois?

- Claro que me choca. E é por isso que eu entendo que deve ser feito o máximo possível para pôr cobro a situações desse tipo.
Deve haver poderes de investigação muito vastos.

ARF – Mas os responsáveis dizem que não podem investigar por causa das leis penais.

-
Devem ser feitas as alterações necessárias para evitar isso. É claro que foram pessoas que enriqueceram por via da corrupção.

ARF – À vista desarmada. À vista de toda a gente.

LC – A sensação que fica é que os políticos têm medo de alterar as leis para se protegerem eles próprios.

- Eu discordo disso. Acho que quem não deve não teme.

LC – Mas fica essa suspeita.

- Não creio que não haja vontade da parte do poder político de combater a corrupção. Todos proclamam essa necessidade. O que me parece é que há ainda alguma timidez no combate à corrupção.

ARF – Mas têm medo?

- Há também alguma inibição que tem a ver com a defesa dos direitos individuais, com posições demasiado dogmáticas, que teme que a esfera da vida privada seja excessivamente invadida pelo Estado.

ARF – O poder político recusa aceitar o
crime do enriquecimento ilícito.

- Eu não estou de acordo com isso. De maneira nenhuma. Quem não deve não teme. Acho que há um limite para essa defesa dos direitos individuais. Como republicano que sou entendo que os direitos da comunidade se sobrepõem em última análise a direitos individuais. E importa esclarecer uma questão ideológica sobre o Estado.

ARF – Qual é?

- Sobre o Estado. O que é o Estado? O Estado é a comunidade dos cidadãos politicamente organizados. O Estado não é o inimigo do cidadão. O Estado não é aquele adversário de quem temos medo. O Estado somos nós. Esta é a concepção republicana do Estado.

terça-feira, 17 de março de 2009

DEMOCRACIA E MAIORIAS


Esta edificante história democrática conta-se em duas penadas.

Há seis meses, oito enfermeiros supervisores da linha Saúde 24 denunciaram à ministra da Saúde uma série de factos. Apesar de serem funcionários subordinados de uma empresa da toda poderosa Caixa Geral de Depósitos, que como se sabe usa pessoas e dinheiro sem escrúpulos, todos assinaram o que escreveram.

Num país habituado a cartas anónimas, o mínimo que se esperaria de uma ministra saída do grupo de Manuel Alegre é que, por lacónima que fosse, acusasse a recepção.

E o mínimo a que era obrigada, porque ocupa um lugar de Estado, é que verificasse se os factos eram verdadeiros ou falsos.

Dupla negativa.

Sucede que todos os factos denunciados que foram objecto de atenção noticiosa se revelaram verdadeiros, o que implica quebras contratuais da excusiva responsabilidade da empresa gestora, que reiteradamente mentiu à Direcção-Geral da Saúde, a entidade contratante.

Não foi até hoje possível desmentir um único facto.

O
discurso oficial de que a linha "funciona bem" é pura propaganda, como se percebeu quando milhares de portugueses ficaram por atender durante o surto de gripe.

A empresa, governada por um daqueles gestores manhosos à antiga, chamado Ramiro Martins, tratou de usar todo o poder discricionário que o dinheiro do Estado e a lentidão dos tribunais lhe permitem para perseguir pessoas que assinam o que escrevem num país de cartas anónimas.

Há uns tipos assim, que mandam porque mandam, mesmo que não tenham competência para nada, como o próprio Director-Geral da Saúde já disse aos senhores deputados e a quem mais o quis ouvir.

Claro que os deputados não são parvos e já perceberam quem está a mentir. Mas o PS chumbou hoje a audição dos enfermeiros supervisores porque há verdades que incomodam.

Como tem a maioria, decide sozinho quem fala na casa da Democracia. É por isso que é preciso mais uma, não é?