sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O TGV (4)

"Lisboa pode, por exemplo, transformar-se na praia de Madrid. Enfim, temos condições turísticas, as condições que nós temos para desportos novos, como o surf (...)"

"Quando o comboio foi introduzido no Século XIX provavelmente as carroças, que eram puxadas a cavalos caíram e se calhar na altura os agentes económicos que estavam ligados à exploração das carroças, e que levavam as pessoas, ficaram extremamente tristes, e todas as indústrias que estavam associadas, a indústria da palha, por exemplo, reparem, os industriais que estavam preocupados com o abastecimento da palha para os cavalos ficaram preocupadíssimos, porque de facto a sua indústria caíu"

António Mendonça, Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações

sábado, 9 de janeiro de 2010

A VINGANÇA

Conta o "Sol", melhor jornal português da actualidade, que os "ferristas" (sic) ficaram muito, mas mesmo muito "indignados", com a possibilidade de o ministro da Justiça ter convidado Souto Moura para presidente do Centro de Estudos Judiciários. Os socialistas-ferristas, apesar do caso andar há tanto tempo embrulhado no tribunal que já ninguém suporta ouvir falar dele, "não se esquecem do Processo Casa Pia".

O ex-PGR tornou-se um alvo a abater desde o momento em que revelou independência. Para os socialistas-ferristas ele devia, obviamente, ter chamado os magistrados que investigaram o caso e obrigá-los a enterrar à nascença qualquer investigação às denúncias feitas no processo por menores da Casa Pia contra socialistas-ferristas ou outros políticos aproximados.

Claro que isso teria sido uma violação grosseira à autonomia desses magistrados, legalmente consagrada, aos mais elementares direitos de personalidade dos denunciantes, constitucionalmente garantidos, e à mais indispensável regra democrática, alegadamente conquistada no 25 de Abril, de que somos todos iguais perante a lei. Pormenores, para os socialistas-ferristas, eventualmente interessantes para erguer como bandeira em discursos e para comentar casos em que os visados são os outros, ou qualquer um de nós. Para os socialistas-ferristas Souto Moura, se fosse um bom PGR, teria agido como eles esperam de um PGR: teria cortado o processo pela raiz, obrigando os magistrados a decapitar os indícios e, caso eles não obedecessem, cortava-lhes de imediato a cabeça.

Como Souto Moura não fez sangue com a cabeça dos outros, serviu-se ele próprio numa bandeja a um poder político que adora carregar a Democracia pela boca mas tribal e vingativo até aos ossos. Como diz o povo, o PGR pôs a cabeça no cepo. Pedro Adão e Silva, socialista-ferrista que fez parte do secretariado do Ferro Rodrigues, quer guerra. O suposto convite, desmentido ao Sol pelo Gabinete de José Sócrates, deixou-o "chocado". A guerra não se faz com desmentidos de primeiro-ministro: a palavra dele, afinal, neste assunto não é suficiente. Adão "duvida" que o convite seja "do agrado" de José Sócrates, mas está convencido de que o ministro Alberto Martins se atreveu a fazê-lo. "Isto parece fazer parte de uma tendência conciliadora que não é boa conselheira", afirma o beligerante.

Não ocorre aos socialistas-ferristas qualquer mérito a Souto Moura para presidir ao CEJ, mesmo que ele tenha chegado a Juiz-Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, degrau mais alto da carreira de um magistrado, e respire os mesmos ares de, por exemplo, um Noronha Nascimento. Adão, um entendido na matéria que anda a ser desperdiçado na política, acha que "os magistrados estão necessitados de uma formação muito diferente". Já Ana Gomes, perita em muitas matérias e nesta também, considera que Souto Moura "não tem vocação nem especial dinamismo" para dirigir uma escola de magistrados.

Souto Moura já pagou a independência com o cargo e com o permanenete enxovalho público, mas terá de continuar a pagar por ela para o resto da vida. Como o juiz Rui Teixeira, a quem os conselheiros designados pelo PS no Conselho Superior da Magistratura quiseram congelar a carreira, sob o aplauso de Ana Gomes e outros socialistas-ferristas. Isso de o juiz ter ganho o recurso em tribunal foi esquecido, mas o processo Casa Pia não. O facto de Paulo Pedroso, Ferro Rodrigues e Jaime Gama terem perdido todos os processos por difamação contra os rapazes que os denunciaram também não tem valor relevante. O processo principal, que como toda a gente sabe correu bem embora lento, não está esquecido.

Souto Moura, se fosse convidado, faria bem em recusar o convite.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O TGV (3)

A comissão parlamentar de Obras Públicas, Transportes e Comunicações aprovou as audições de Manuel Moura, primeiro presidente da RAVE, e de actuais responsáveis da empresa para prestar esclarecimentos sobre o projecto português de alta velocidade ferroviária (TGV).

O requerimento para a audição de Manuel Moura, primeiro presidente da RAVE – Rede Ferroviária de Alta Velocidade, apresentado pelo grupo parlamentar do PSD, foi aprovado por unanimidade durante a reunião de ontem da comissão parlamentar de obras públicas.

O pedido do PSD surgiu depois de, no início de Dezembro, Manuel Moura ter qualificado, em declarações à TVI, o projecto de alta velocidade como um “erro histórico”, que vai sair caro à economia portuguesa.

(Agência Lusa, na íntegra aqui)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O TGV (2)

Comunicação de António Brotas, professor do IST, especialista em Transportes, no dia 13 Dez 2009, no encontro de José Socrates com militantes do PS na FIL:

«Caro Sócrates,

Desejo-lhe dizer 2 ou 3 coisas que escrevi. Entro imediatamente no assunto e leio:

1-Estou convencido que o Governo tem condições para governar e que vai governar 4 anos. As Oposições farão o seu trabalho, umas vezes bem, outras pior, é lá com elas.
O PS só deverá ter uma linha de rumo, um objectivo: governar bem.
Para isso, o conselho que lhe dou é o de que oiça mais o PS.
Não unicamente em encontros como este mas, sobretudo, fomentando, estimulando a actividade, e ouvindo gabinetes de estudo (do PS) que hoje praticamente não existem.

2- Desejo felicita-lo pela decisão anunciada, ontem, do arranque em 2010 das obras da linha de bitola europeia de Caia ao Poceirão, a integrar na futura linha de Lisboa a Madrid.
Esta linha de Lisboa a Madrid vai ser a nossa primeira, mas não única, ligação à rede europeia de bitola europeia. Sem estas ligações o país ficaria uma ilha ferroviária o que seria terrivel para a nossa Economia. O governo socialista deve ser felicitado por dar este primeiro passo para a sua concretização.
Este primeiro troço de Caia ao Poceirão é já muito importante mas, para ser verdadeiramente benéfico a curto prazo, necessita de um pequeno acrescento.
Não tem sentido terminar uma linha de alta velocidade numa plataforma logística, aliás, ainda não construida. Esta linha vinda de Badajoz deve seguir até ao Pinhal Novo onde há uma estação que serve os comboios da FERTAGUS e para o Algarve.
São necessários mais 15 km para a nova linha chegar a esta estação. É a maneira de começar a ser benéfica a muito curto prazo.Para o Poceirão deverá ser feito um (ou mais do que um) desvios laterais para os comboios de mercadorias de baixa velocidade.
Estou certo que se chegará a esta solução quando o assunto for estudado em detalhe.
Enviarei ao Senhor Secretário de Estado dos Transportes dentro de 2 ou 3 dias uma nota sobre este assunto.

3- Um outro assunto paralelo, mas distinto, é o das ligações ferroviárias do porto de Sines.
O Senhor Ministro do Fomento de Espanha veio-nos há dias dizer que a Espanha tem um grande interesse na ligação ao porto de Sines por uma linha de bitola europeia.
Este interesse de Espanha coincide inteiramente com o nosso.
O que precisamos de fazer, quase imediatamente, é uma linha de bitola europeia de Sines ao Poceirão, que assegurará a conveniente ligação a Espanha.
Interessa-nos, além disso, melhorar a ligação por bitola ibérica de Sines ao Poceirão, porque no Poceirão converge a nossa actual rede de bitola ibérica que continuará em funcionamento por mais duas décadas.
O trajecto natural que se impõe para a nova linha é o trajecto directo Norte Sul (já parcialmente estudado). Os elementos expostos parecem indicar que esta linha deva ser uma linha de baixa velocidade, com duas vias, uma de bitola europeia e outra de bitola ibérica, que sirva o litoral alentejano inclusivé para o trânsito de passageiros.
Esta obra está inteiramente ao alcance das nossas empresas, os benefícios serão imediatos e os custos relativamente diminutos.
Em vez disso, a RAVE e a REFER, que não acreditam na migração rápida da rede espanhola da bitola ibérica para a bitola europeia, insistem em fazer uma linha de bitola ibérica de Sines a Évora.
Esta linha é um verdadeiro absurdo que não serve a Espanha e prejudica Portugal, porque deixa Sines com uma péssima ligação à nossa actual rede de bitola ibérica, e porque seria quase um apelo para a Espanha retardar a modernização da sua rêde.
Bem ao contrário, na próxima cimeira de 2010 Portugal deve fazer um apelo a Espanha para não o fazer.»

domingo, 3 de janeiro de 2010

O PROBLEMA DA REALIDADE

«Caros Amigos, chegamos ao fim de 2009 num quadro de completa desilusão. Muitos de nós acreditaram, em 2005, num projecto mobilizador de transformação da sociedade e de modernização do país. Parecia evidente que o PS sob a direcção de JS tinha condições para fazer o país avançar libertando-se da teia dos interesses e rompendo com as capturas corporativas.
Também na Saúde tal pareceu possível. Puro engano».


"SNS", in SaúdeSa

«Acho que há carência de alma e de projecto no país e já não é de hoje».

Vítor Ramalho, presidente do PS - Setúbal