quinta-feira, 12 de março de 2009

Direito de Resposta


Às seis da manha, pela hora a que se vendem os primeiros jornais, disseste, meu querido amigo, a tua notícia:

"Eu morri".

Como sempre, claro, mais sólido do que a própria língua e todos os códigos.

Sabes, João, quando te conheci, eu em Lisboa tu em Coimbra, eu todo corrida e tu universidade, conheci o meu código, a minha ética e a minha deontologia. Na boca dos outros desconfiei sempre dessas palavras, na tua elas ganhavam uma existência tranquila, como um vento suave e limpo.

E tantas vezes te perguntei coisas, João.

Umas à volta dos finos mais finos do Mundo, na tua Praça da República, quando eu também era de Coimbra porque estava contigo. Outras ao telefone, aflito, porque me convidaram para a televisão e eu tinha medo, João. Quando o vento virava turbilhão só havia dois jornalistas para mim, que eu queria a responder por mim próprio.

Tu e o Torcato.

Sacana, viste aos gritos o golo da Académica, deixaste os gajos tranquilos na primeira divisão, ergueste-te da cama e enquanto te davam uma volta ao estádio foste ter com ele.

Vejo-vos outra vez, na mesa dez a pedir mais um, todos cúmplices, a rir maliciosos de como me vou safar sozinho.

Venho aqui retribuir-te essa maldade, meu amigo, que foste o melhor coração que encontrei nesta vida. E pela primeira vez vou desmentir-te.

Ao contrário do que ele próprio disse, senhor director,

o João não morreu.

3 comentários:

Anónimo disse...

tudo dito.

rvn

Anónimo disse...

O João não tiveste tempo de me apresentar. Não calhou. A "preta" diz que são desencontros. Mas eu acho que essa coisa não existe. Por isso, hoje só me lembro do Torcato.

CFM

JPN disse...

Que bonita homenagem, Carlos!