sábado, 9 de janeiro de 2010

A VINGANÇA

Conta o "Sol", melhor jornal português da actualidade, que os "ferristas" (sic) ficaram muito, mas mesmo muito "indignados", com a possibilidade de o ministro da Justiça ter convidado Souto Moura para presidente do Centro de Estudos Judiciários. Os socialistas-ferristas, apesar do caso andar há tanto tempo embrulhado no tribunal que já ninguém suporta ouvir falar dele, "não se esquecem do Processo Casa Pia".

O ex-PGR tornou-se um alvo a abater desde o momento em que revelou independência. Para os socialistas-ferristas ele devia, obviamente, ter chamado os magistrados que investigaram o caso e obrigá-los a enterrar à nascença qualquer investigação às denúncias feitas no processo por menores da Casa Pia contra socialistas-ferristas ou outros políticos aproximados.

Claro que isso teria sido uma violação grosseira à autonomia desses magistrados, legalmente consagrada, aos mais elementares direitos de personalidade dos denunciantes, constitucionalmente garantidos, e à mais indispensável regra democrática, alegadamente conquistada no 25 de Abril, de que somos todos iguais perante a lei. Pormenores, para os socialistas-ferristas, eventualmente interessantes para erguer como bandeira em discursos e para comentar casos em que os visados são os outros, ou qualquer um de nós. Para os socialistas-ferristas Souto Moura, se fosse um bom PGR, teria agido como eles esperam de um PGR: teria cortado o processo pela raiz, obrigando os magistrados a decapitar os indícios e, caso eles não obedecessem, cortava-lhes de imediato a cabeça.

Como Souto Moura não fez sangue com a cabeça dos outros, serviu-se ele próprio numa bandeja a um poder político que adora carregar a Democracia pela boca mas tribal e vingativo até aos ossos. Como diz o povo, o PGR pôs a cabeça no cepo. Pedro Adão e Silva, socialista-ferrista que fez parte do secretariado do Ferro Rodrigues, quer guerra. O suposto convite, desmentido ao Sol pelo Gabinete de José Sócrates, deixou-o "chocado". A guerra não se faz com desmentidos de primeiro-ministro: a palavra dele, afinal, neste assunto não é suficiente. Adão "duvida" que o convite seja "do agrado" de José Sócrates, mas está convencido de que o ministro Alberto Martins se atreveu a fazê-lo. "Isto parece fazer parte de uma tendência conciliadora que não é boa conselheira", afirma o beligerante.

Não ocorre aos socialistas-ferristas qualquer mérito a Souto Moura para presidir ao CEJ, mesmo que ele tenha chegado a Juiz-Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, degrau mais alto da carreira de um magistrado, e respire os mesmos ares de, por exemplo, um Noronha Nascimento. Adão, um entendido na matéria que anda a ser desperdiçado na política, acha que "os magistrados estão necessitados de uma formação muito diferente". Já Ana Gomes, perita em muitas matérias e nesta também, considera que Souto Moura "não tem vocação nem especial dinamismo" para dirigir uma escola de magistrados.

Souto Moura já pagou a independência com o cargo e com o permanenete enxovalho público, mas terá de continuar a pagar por ela para o resto da vida. Como o juiz Rui Teixeira, a quem os conselheiros designados pelo PS no Conselho Superior da Magistratura quiseram congelar a carreira, sob o aplauso de Ana Gomes e outros socialistas-ferristas. Isso de o juiz ter ganho o recurso em tribunal foi esquecido, mas o processo Casa Pia não. O facto de Paulo Pedroso, Ferro Rodrigues e Jaime Gama terem perdido todos os processos por difamação contra os rapazes que os denunciaram também não tem valor relevante. O processo principal, que como toda a gente sabe correu bem embora lento, não está esquecido.

Souto Moura, se fosse convidado, faria bem em recusar o convite.

Sem comentários: