Às seis da manha, pela hora a que se vendem os primeiros jornais, disseste, meu querido amigo, a tua notícia:
"Eu morri".
Como sempre, claro, mais sólido do que a própria língua e todos os códigos.
Sabes, João, quando te conheci, eu em Lisboa tu em Coimbra, eu todo corrida e tu universidade, conheci o meu código, a minha ética e a minha deontologia. Na boca dos outros desconfiei sempre dessas palavras, na tua elas ganhavam uma existência tranquila, como um vento suave e limpo.
E tantas vezes te perguntei coisas, João.
Umas à volta dos finos mais finos do Mundo, na tua Praça da República, quando eu também era de Coimbra porque estava contigo. Outras ao telefone, aflito, porque me convidaram para a televisão e eu tinha medo, João. Quando o vento virava turbilhão só havia dois jornalistas para mim, que eu queria a responder por mim próprio.
Tu e o Torcato.
Sacana, viste aos gritos o golo da Académica, deixaste os gajos tranquilos na primeira divisão, ergueste-te da cama e enquanto te davam uma volta ao estádio foste ter com ele.
Vejo-vos outra vez, na mesa dez a pedir mais um, todos cúmplices, a rir maliciosos de como me vou safar sozinho.
Venho aqui retribuir-te essa maldade, meu amigo, que foste o melhor coração que encontrei nesta vida. E pela primeira vez vou desmentir-te.
Ao contrário do que ele próprio disse, senhor director,
o João não morreu.
"Eu morri".
Como sempre, claro, mais sólido do que a própria língua e todos os códigos.
Sabes, João, quando te conheci, eu em Lisboa tu em Coimbra, eu todo corrida e tu universidade, conheci o meu código, a minha ética e a minha deontologia. Na boca dos outros desconfiei sempre dessas palavras, na tua elas ganhavam uma existência tranquila, como um vento suave e limpo.
E tantas vezes te perguntei coisas, João.
Umas à volta dos finos mais finos do Mundo, na tua Praça da República, quando eu também era de Coimbra porque estava contigo. Outras ao telefone, aflito, porque me convidaram para a televisão e eu tinha medo, João. Quando o vento virava turbilhão só havia dois jornalistas para mim, que eu queria a responder por mim próprio.
Tu e o Torcato.
Sacana, viste aos gritos o golo da Académica, deixaste os gajos tranquilos na primeira divisão, ergueste-te da cama e enquanto te davam uma volta ao estádio foste ter com ele.
Vejo-vos outra vez, na mesa dez a pedir mais um, todos cúmplices, a rir maliciosos de como me vou safar sozinho.
Venho aqui retribuir-te essa maldade, meu amigo, que foste o melhor coração que encontrei nesta vida. E pela primeira vez vou desmentir-te.
Ao contrário do que ele próprio disse, senhor director,
o João não morreu.
3 comentários:
tudo dito.
rvn
O João não tiveste tempo de me apresentar. Não calhou. A "preta" diz que são desencontros. Mas eu acho que essa coisa não existe. Por isso, hoje só me lembro do Torcato.
CFM
Que bonita homenagem, Carlos!
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