quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

ESTRANHA FORMA DE CORAGEM


O que me impressiona neste artigo do juiz desembargador Rui Rangel é o recurso a uma impressionante dualidade retórica para escrever as suas opiniões.

O artigo não é só uma bravata contra o Jornal Nacional de 6ª Feira, projecto jornalístico que ele manifestamente não entende mas segue com a devida atenção, o que já não é mau.

Primeiro, o Senhor Desembargador espraia-se num preâmbulo em que critica, muito indirectamente, quem quer reduzir o processo Freeport a um "caso" jornalístico:

"É frequente afirmar-se que são os jornalistas que criam os casos, que perseguem as pessoas, que violam o segredo de justiça, assumindo o papel de abutres. (...) Mas daí a dizer-se que são os culpados das crises, culpados, por exemplo, do chamado caso Freeport, por destilarem notícias que não são verdadeiras, é carga a mais para os seus ombros".

Esta delicadeza do articulista chega a ser comovente. "Diz-se", "é frequente dizer-se". Onde está a coragem para pronunciar claramente os nomes de Proença de Carvalho, Freitas do Amaral, Santos Silva, Correia de Campos ou do próprio José Sócrates, revelada a seguir, com toda a grosseria possível, para se atirar ao "casal Moniz"?

Então, Senhor Desembargador, quem diz as coisas que se dizem por aí, "frequentemente"?

O dr. Rangel tem todo o direito a ter as opiniões que tem, como eu tenho de as achar um completo disparate. Mas, para mim - que sou jornalista do Jornal Nacional de 6ª e não renego nada do que assino - é uma decepção ver um magistrado tão corajoso manifestar-se tão reverencial quando esboça, a título de "por exemplo, o chamado caso Freeport", uma modesta crítica a quem está no poder.

Concordo com ele numa coisa. A comunicação social vive "tempos críticos de independência". Mas o Jornal de 6ª não.

Mas tenho para o Senhor Desembargador uma notícia: a Justiça também vive tempos críticos de independência. Ele, sinceramente, espero que não.

1 comentário:

José Maria Martins disse...

Caro Carlos Enes

O PS tem enorme peso em vários sectores.
Portugal tem situações destas.
O Dr. Rangel poderia ser mais comedido.
Para um juiz ficaria bem não tecer opiniões como as que o Dr. Rangel teceu.
Fica mal.
O irmão parece que é socialista, parece que esteve envolvido, ou está, no concurso a um canal de televisão e, José Sócrtaes não terá apreciado o artigo do Dr. Rangel.
Depois, se o caso chegar ao Tribunal da Relação o Dr. Rangel não poderá julgar o caso.
Lá vai para o galheiro a regra d juiz natural.
Um juiz criticar a comunicação social da forma como ele fez em relação à TVI em que país da União Europeia é aceitável?